Tribunal Regional do Trabalho de Goiás vai julgar juiz suspeito de ligação com Cachoeira

Frederico Vasconcelos

Processo disciplinar vai a julgamento em sessão aberta no próximo dia 26

O Tribunal Regional do Trabalho de Goiás (18ª Região) realizará no próximo dia 26 o julgamento do processo disciplinar para apurar as suspeitas de envolvimento do juiz Júlio César Cardoso de Brito com membros de organização ligada ao empresário Carlinhos Cachoeira.

A sessão será pública, conforme os termos da Resolução nº 135 do Conselho Nacional de Justiça.

Por unanimidade, os desembargadores do tribunal decidiram em julho do ano passado abrir processo disciplinar para investigar denúncias apresentadas pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Sindicato dos Servidores Federais em Goiás.

As suspeitas de envolvimento de Brito com Cachoeira foram investigadas inicialmente por uma comissão de sindicância, instaurada em maio do ano passado, após reportagens publicadas pelos jornais “O Popular“, de Goiás, e “Correio Braziliense“, de Brasília, por ocasião da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal.

Em julho de 2012, a Folha revelou que o Tribunal afastara o magistrado. Na véspera, Brito pedira licença de suas funções de vice-presidente e corregedor. Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e documentos encaminhados ao TRT pela 11ª Vara Federal Criminal de Goiás sugerem que Brito fazia tráfico de influência e orientava advogados do grupo de Cachoeira a lidar com ações no tribunal.

Brito é suspeito de receber presentes ou promessas de benefícios, como ingressos para eventos artísticos, pacotes turísticos e um carro de luxo (Citroen C4 Pallas), que teria sido parcialmente pago com recursos da organização criminosa.

O processo inclui 77 ligações interceptadas pela polícia, em que o magistrado conversa com um dos braços direitos de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, a quem Brito trata como “irmão”.

Nas conversas, o juiz discute situação de empresas com ações trabalhistas no TRT de Goiás, entre elas o laboratório Vitapan, controlado pelo grupo de Cachoeira, a distribuidora de medicamentos JC, de um irmão do empresário, e a Ideal Segurança.

Há suspeitas de que uma viagem do magistrado a Buenos Aires foi patrocinada por Gleyb. Numa das conversas gravadas, um operador de Cachoeira discute com Brito a encomenda de um computador que o empresário traria para ele de Miami (EUA).

O juiz disse que não atuou no julgamento de ações de interesse das empresas. Brito alegou em sua defesa nos autos que não houve qualquer influência sua no julgamento de processos.

Disse que mantinha convívio social com Gleyb e com o delegado da PF (afastado das funções) Deuselino Valadares dos Santos, não chegando a amizade íntima ou a algum vínculo negocial.

Sustentou ainda que conhecia superficialmente Carlinhos Cachoeira, sem nenhum convívio diário.

Disse que na viagem com sua mulher a Buenos Aires, acompanhados de Gleyb Ferreira da Cruz e Marcos Antônio Ramos, cada um viajou por sua própria conta.

A defesa alegou que a viagem fora decorrente de uma promoção que beneficiou o magistrado ao adquirir o veículo Citroen.

Comentários

  1. Um aspecto que chama a atenção é que reiteradas vezes as associações de magistrados insistem em que investigações sobre juízes devem ser atribuição das corregedorias antes que se abra qualquer procedimento no CNJ. O caso demonstra mais uma vez que as corredorias dos tribunais, com raras exceções, fazem seu trabalho para “inglês ver”. Não é o primeiro e temo não ser o último caso em que veremos corregedores envolvidos com figurões suspeitos de criminalidade. Aqui em MG já tivemos escutas autorizadas que flagraram um ex-corregedor dando instruções diretas a um foragido da justiça.

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