Ex-corregedora Eliana Calmon: “A corrupção está dominando tudo”

Frederico Vasconcelos

Eliana Calmon Bahia NotíciasA seguir, trechos de entrevista concedida por Eliana Calmon, ex-corregedora nacional de Justiça, aos jornalistas Evilásio Júnior, José Marques e Fernanda Aragão, do “Bahia Notícias“.

Ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça, ela deverá concorrer a um cargo no Senado pelo PSB na Bahia (ela também recebeu convites do PTN, PDT, PMDB e DEM).

 

Para quem não é profissional do ramo é muito difícil enfrentar o eleitorado, mas eu acho que nós precisamos começar. Senão, não muda.

Pela legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora, mas como é que se faz política se a gente não diz o que quer ser? A presidente Dilma e o ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita.

A relação entre o poder econômico e o poder político existe a partir da elaboração das leis. É preciso fazer regras transparentes para acabar com os grotões que são seccionados de duas formas: as pessoas ignorantes não sabem em quem votar, então você faz a troca de voto [por favores], e as pessoas não tão ignorantes, que é a classe media, você engana com regras que são verdadeiros embustes. Por exemplo, Renan [Senador Renan Calheiros] dizer que depois do movimento de junho o Senado votou projetos espetaculares, isso não é verdade. Eles votaram projetos pela metade, que parecem deslumbrantes, mas não são.

Se eles cortarem as doações de campanha de pessoas físicas para os outros candidatos, será muito bom para Dilma. Os cofres já estão cheios.

Há uma apatia do Congresso Nacional em razão destas parcerias que estão sendo feitas com o partido dominante que é o PT. Paralisa-se o Legislativo e o Executivo fica nas mãos do PMDB. É isto que estamos vendo claramente.

Eu fui eleitora do PT porque sempre quis mudanças e ele tinha dois propósitos: inclusão social e ética na política. (…) A corrupção está dominando tudo. É possível perceber, em Brasília, a degradação ética de forma muito palpável.

Posso dizer que, na Justiça, as coisas também pioraram porque ela é o reflexo da sociedade. Ela não está fora da sociedade.

Antigamente, no STJ, chapa branca (candidatos escolhidos por políticos) não entravam na lista. Hoje, há uma interferência direta de políticos na escolha e isso me preocupa muito. Por isso eu estou saindo sem muita saudade.

Se me perguntassem se eu queria ser presidente do STJ, eu diria que não, porque o presidente do STJ é um administrador de prédio. Um prefeito da Bahia administra uma cidade. Eu acho que os processos de mudança estão no Legislativo.

Depois da interferência do CNJ [no Tribunal de Justiça da Bahia], os corruptos estão assustados e aqueles inocentes estão querendo trabalhar para mostrar que a Bahia tem um tribunal que se respeite.

Quanto ao atual presidente, Eserval Rocha, ele é um homem muito correto. Todos diziam que ele era louco, assim como disseram que eu era louca. Na verdade, é, realmente, quase uma loucura você querer marchar contra o vento. E ele sempre fez isso. Ele não tinha chance de ser presidente se não fosse este afastamento [do presidente Mário Simões Hirs]. A mulher mais forte do tribunal se chama Telma Britto [ex-presidente do TJ-BA, também afastada pelo CNJ] e ela não queria ele.

Aquilo que eu verifiquei como corregedora eu passei para o corregedor. Não usarei isto como arma eleitoral. Acho que seria uma indignidade da minha parte me aproveitar de um cargo no Judiciário para usar como argumento de campanha.

O maior problema do Judiciário baiano não é a corrupção, é a inação. É não querer fazer, não aceitar a mudança em troca de pequenos favores, benesses. Tribunal corrupto era o do Paraná, o do Maranhão.

[Questionada se é verdade que a primeira-dama Fátima Mendonça é funcionária fantasma no Tribunal de Justiça]: É. É só verificar em um site. Eles colocaram todos os documentos e a funcionária que denunciou foi punida por isso.

Aqui na Bahia todos os órgãos estão cooptados: O Ministério Publico, Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas.