Roda Viva e vivacidade política – 2

Frederico Vasconcelos

Ao analisar o desempenho do presidente da AMB no programa “Roda Viva”, Roberto Pompeu de Toledo diz que “a fala de Calandra é mansa, a postura imperturbável, a amabilidade impõe-lhe referir-se aos entrevistadores sempre pelo nome. Tais qualidades reforçam a convicção de que, tivesse escolhido a politica, haveria de sair-se bem”.

O programa dedicou um bloco quase inteiro à falta de transparência na participação de juízes em eventos em resorts luxuosos com despesas pagas por entidades e empresas públicas e privadas.

Pressionado pelos entrevistadores, e numa demonstração da amabilidade referida pelo articulista da “Veja“, Calandra afirmou que recebeu “com humildade” as reportagens na Folha questionando vários eventos da AMB, elaboradas por “meu querido amigo Fred Vasconcelos”.

O editor deste Blog igualmente recebe “com humildade” a referência, uma excessiva generosidade do entrevistado. Como nossas relações limitam-se às atividades profissionais com respeito mútuo, entendo que o presidente da AMB também sinalizou que é possível divergir sem alimentar hostilidades no plano pessoal.

Em outras palavras, como diz Pompeu de Toledo, “tivesse Calandra escolhido a política, haveria de sair-se bem”.

 

Comentários

  1. Calandra falou bem. A imprensa está atirando seguidamente nos magistrados, estes que lhes garantem a liberdade de atuação como jornalistas. Quanto aos direitos dos juízes, ninguém fala que os professores e promotores de justiça também tem 60 dias de férias por ano… Só para os juízes é privilégio? A imprensa está fazendo o jogo do PT e quer enfraquecer o Judiciário para minar o julgamento do Mensalão… Todo mundo está vendo isso!!! Acorda Folha de S. Paulo! Acorda Blog do Fred!

    1. Menos Rogério, quem garante a liberdade de expressão e a atuação da imprensa é Carta Magna. Os juízes, como operadores do direito, têm o dever e a obrigação de aplicar a lei. Logo, ninguém neste país deve qualquer favor a juiz, essencialmente, funcionário público como qualquer outro.
      Concordo, contudo, com você acerca da crítica ao Ministério Público.
      Quanto aos professores, paciência …

      1. Prezado Atila, quem garante a liberdade de expressão é a Constituição, mas quem executa é o JUIZ, que precisa de segurança e independência para decidir. Eu sei que esta realidade é dolorosa para você. E ATENÇÃO: juiz não é servidor público. Juiz é Agente Político. Dá uma olhadinha nos livros de Direito Administrativo sobre esta questão, pois é matéria que cai em concurso!

      2. Magistrado é agente político, pois membro de Poder, espécie do gênero servidor público. Para conferir, leia Hely Lopes Meirelles (o principal administrativista brasileiro) ou Toshio Mukai. A nomemclatura “funcionário público” já deixou de ser usada há muito tempo.
        Que o mensalão é o que está por trás da campanha, ninguém de inteligência acima da mediana duvida. Rogério, sua análise é perfeita.

      3. A liberdade de imprensa assinalada pela Carta da República pode ser relativizada por outros artigos ou princípios constitucionais. A exegése vingente relativa ao disposivo constitucional segue a toada dos intérpretes da lei, os magistrados. O dever de aplicar a lei reflete-se em não negar jurisdição à quem bate às suas portas. Agora a interpretação é muito relativa, fato é que raramente vê-se unanimidade no julgamentos plenários da Suprema Corte. Devemos sim à magistratura braileira a tão preciosa liberdade de que gozamos em nosso país. São profissionais de extremo esmero. Muitos dos que os criticam não passariam na primeira fase dos concursos cujas vagas raramente são preenchidas, tão difíceis são. Quando a serem funcionários públicos engana-se o sr. Atila, o magistrado no exercício de sua função é o próprio estado encarnado. Por tudo isso deve ter o magistrado conduta ilibada, o que certamente têm a ampla maioria, salvo os raros frutos pobres – todas instituições e profissões os têm, pois é questão de caráter, cuja variabilidade é inerente da raça humana. Mazelas há inúmeras… devem ser saneadas.
        Devemos pensar: A quem interessa a fragilização da magistatura??? Certamente a alguém…
        ps. Só pra constar não sou operador do direito apenas cuirurgião-dentista e professor universitário.

        1. Parabéns Dr. Paulo e seja bem-vindo, suas opiniões lúcidas, como a acima, irão fazer bem e oxigenar o ambiente. Em nome do blogueiro tomo a liberdade de convidá-lo a vir mais vezes. Será um enorme prazer ler e ouvir o que tem a dizer. Os seus alunos devem se orgulhar de tal Professor. Que bom ver o reconhecimento de alguém que sabe dar valor à liberdade, de entender a dura missão do magistrado, que faz o controle de constitucionalidade das leis TODOS OS DIAS e poucos sabem disso ou reconhecem. Somente tendo alguma noção quando vêem- quase sempre o próprio Estado ou outrem – fazendo tábula rasa de seus direitos e procuram o abrigo no Estado-Juiz.

      4. Atila, Carta Magna sem juízes independentes não significa nada. Veja a Venezuela, Equador e outros exemplos bem pertinho do Brasil.
        E juiz não é funcionário público. É um agente do Estado que personifica um dos poderes da República. Essa tentativa de manietar os juízes é que gera a situação atual: pedras e mais pedras na magistratura, sem que os detratores atentem que estão destruindo o Estado de Direito.
        Ter 30 ou 60 dias de férias é a menor das questões!
        Abraços e todos pelo bom debate aqui travado!

  2. nobre Carlos,

    o encurralamento da Magistratura atualmente, bem como a dita ” perseguição” sofrida, com todo respeito, deve-se atualmente a uma pessoa? Desembargador Calandra. Ele é o responsável pelo alto nível de rejeição da Magistratura hodiernamente. Foi ele que foi para o enfrnetamento, achando que o STF iria dar cobertura as suas táticas, se deu mal e levou com ele a Magistratura para o buraco junto com ele. Conclusão: ficou fraco sendo que as mudanças necessárias vão aproveitar o momento propício e realiza-las. Eu não tou criticando, isso até uma crinaça de 2 anos terá essa conclusão.

    1. O Desembargador Calandra está de parabéns. Não levou a magistratura para buraco algum, é uma luta do Davi (magistratura) contra o Golias (Governo, imprensa, etc). O primeiro praticamente sem armas, o segundo com a PROPAGANDA ( que desde antes da II WW já se afirmava como uma das mais formidáveis armas), além do poder das verbas sem limites, nomeações (inclusive para as cúpulas do Poder, onde se concentra tudo), do jogo sujo (marca registrada do sindicalismo). Se Davi perder, ao contrário da história bíblica, o povo vai sentir na carne o que é uma ditadura de verdade. Quem está ou esteve sob o governo do pt (municipal, estadua) já viu que eles dominam o jogo sindical e os movimentos grevistas, os aumentos salariais acabam. No governo federal só tem vez quem for do partido. O resto fica com as sobras e nunca se viu tanta corrupção antes na história desse país. Não preciso falar do narcotráfico e do apoio às ditaduras do resto do mundo. Vocês que torcem para o Golias podem se arrepender amargamente. Lógico que primeiro vão em cima do Judiciário, como antes já desmontaram o Exército, numa revanche sem peias. Depois o MP e a própria imprensa. É só olhar em volta, no resto da AL.

  3. Um grande erro da imprensa, ao questionar entidades corporativas de juízes, é exigir delas postura de entidade isenta, como se fosse órgão fiscalizatório do Judiciário. AMB, Ajufe etc não devem atuar em desfavor das prerrogativas (ou privilégios, pra alguns) de seus próprios associados. Afinal, são entidades corporativas. Elas não diferem praticamente nada de um sindicato, não se podendo cobrar delas atitudes cabíveis a órgãos controladores (CNJ, Corregedorias, MPs, TCUs, TCEs etc).

    1. Exato! Associações de classe devem se preocupar em defender direitos e prerrogativas. A postura “sindical” é inerente à função e objetivo delas. Da mesma maneira que os sindicatos de jornalistas, médicos, OAB, metalúrgicos, bancários, servidores públicos, Associacao Nacional de Procuradores do Estado, Associacao Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional e muitas outras congêneres e de iguais objetivos e funções…ou seja, função classista.

  4. Eu vi a tal entrevista. E vi que desde o seu início, dois jornalistas passaram a provocar o entrevistado com aquelas perguntas populistas. Ora, os tais caras queriam exatamente enervar ou intimidar o entrevistado para que este apresentasse respostas raivosas, o que seria motivo para o Pompeu carregar nas tintas contra o Poder Judiciário. Mas o velho Calandra levou na tranquilidade, pois sabia que estava na beira de uma armadilha. Portanto, se Calandra tivesse respondido e se comportado com hostilidade, seria tachado pelo Pompeu como um juiz autoritário e outros adjetivos que justificariam os ataques que a magistratura vem sofrendo. Mas como o velho lobo se saiu muito bem, e botou os inquisidores raivosos no “chinelo”, é chamado de “político”. Em conclusão, para o Pompeu, o Calandra, após a entrevista, poderia ser tachado de tudo, menos de juiz e presidente de uma instituição que defende a democracia e a magistratura brasileira. Resta ao Pompeu torcer para que na próxima entrevista os jornalistas raivosos consigam enervar o presidente da AMB.

    1. Já tinham tentado a mesma coisa com o Ministro Marco Aurélio, que da mesma forma se saiu otimamente bem… Coitados dos jornalistas, ainda têm que aprender muito.

      1. Vi a entrevista do Ministro M.Aurélio, perdi a do Des. Calandra, que pena.
        Os jornalistas estão pensando que estão acima do bem e do mal, uma pena.
        Os juízes estão na berlinda e ali ficarão por muito tempo, realmente é uma pena.
        Apenas acho tudo uma pena, pena que a maioria está achando que vale a pena achincalhar o Judiciário. Pena!

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