Wadih Damous: “STJ precisa julgar mais”

Frederico Vasconcelos

Presidente da OAB-RJ critica proposta para barrar recursos e escolher processos

O presidente da OAB do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, criticou proposta do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que pretende barrar grande parte dos recursos que chega ao tribunal. Segundo a entidade, a proposta aprovada pelos ministros na última segunda-feira traz sugestões legislativas para que o STJ possa escolher quais processos irá julgar segundo critério de relevância jurídica, social ou econômica.

Segue, na íntegra, o comentário do presidente da OAB-RJ distribuído pela assessoria de imprensa da entidade.

“É um erro equiparar o STJ ao STF, conferindo-lhe o mesmo tratamento. Como guardião da Constituição, o STF tem função muito mais relevante do que o STJ e julga casos capazes de modificar o modo de ser do nosso país. Por lhe competir remediar qualquer violação à legislação federal, o que corresponde a quase todo o sistema jurídico, o STJ não tem aptidão para apreciar causas de grande repercussão. Considerando essa diferença, faz sentido estabelecer filtros de admissibilidade, como a repercussão geral, para que o Supremo somente julgue recursos que interessem a toda a coletividade. Entretanto, não tem propósito fazer o mesmo com o STJ. A criação desses filtros no recurso especial somente servirá para fazer com que o STJ julgue menos recursos. Apenas isso. O STJ não ganhará mais tempo para apreciar matérias de grande repercussão, justamente porque essas causas não se submetem à sua competência. O STJ analisa, nos processos individuais, de interesse apenas das partes envolvidas, se houve infração a alguma norma federal.

Se olharmos outros sistemas jurídicos, veremos que o Brasil não é o único país que possui um Tribunal Superior para defender a legislação federal e outro Tribunal Superior para conservar a Constituição. Na Itália, por exemplo, há a Corte de Cassação, com papel parecido ao do STJ, e a Corte Constitucional, com a mesma função do nosso Supremo. A Corte de Cassação italiana é um tribunal tão inchado quanto o nosso STJ, ao passo que a Corte Constitucional, de acesso mais restrito, aprecia apenas as causas de maior interesse. É assim que deve ser, pois não tem cabimento coexistirem dois Tribunais Superiores com competência para julgar causas com a mesma importância. Para desafogar o STJ, já foram criados alguns remédios, como o instituto dos recursos especiais repetitivos. Com base nesse instituto, o STJ é capaz de julgar, por meio de um único recurso especial, todos os recursos especiais com a mesma tese jurídica. Esse expediente tem diminuído consideravelmente o número de recursos em trâmite no STJ. Por tudo o que se disse, a iniciativa desse anteprojeto só tem um único objetivo: diminuir o número de recursos no STJ. É lamentável que uma Corte que se autointitula Tribunal da Cidadania, pois está mais ao alcance dos jurisdicionados do que o Supremo, agora lhes vire as costas, a fim de atender a um interesse egoísta: julgar menos. A meu ver, o STJ precisa julgar mais.”

Comentários

  1. Quase todo dia sai alguma matéria sobre o que o Dr. Damous pensa a respeito de alguma coisa. Deve ser estratégia para alguma campanha eleitoral. Quem não é visto não é lembrado! Vamos esperar a próxima. Deve ser algo sobre a morosidade da justiça no atual contexto da problemática brasileira.

  2. Nos EUA, um Juiz da Corte Suprema julga 300 casos por anos. Aqui, um Ministro julga 9, 10.000 processos por ano. Temos que acabar com essa indústria de recursos.

  3. PEC dos recursos, já!!! Não querem celeridade, tipo “Justiça Fast-Food’? Isso é que o Doutor devia defender se realmente quer celeridade. Essa indústria de recursos deveria ser reduzida e não multiplicada.

  4. Se houvesse um concurso para ver quem dava mais declarações infelizes, não sei quem ganharia, se Damous (OAB/RJ), Gilmar Mendes (STF), Wedy (AJUFE) ou Eliana Calmon (CNJ/STJ). Mas certamente a disputa ia ser acirrada.

  5. Erro, penso eu, é a ideia difundida (ainda que implicitamente) de que o STJ e o STF seriam instâncias ordinárias, devendo julgar todo e qualquer processo.

  6. E a meu ver, esse sujeito precisa falar menos bobagens e parar de fazer campanha para a presidência do Conselho Federal…

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