Batalha de vaidades atiçou o corporativismo

Frederico Vasconcelos

Sob o título “Não gosto de firula”, a revista “Piauí” de março publica um perfil de sete páginas da ministra Eliana Calmon, de autoria da jornalista Daniela Pinheiro.

“Criticada por seu estilo ruidoso”, a corregedora, segundo define a repórter, diz que seus adversários defendem valores que a sociedade não comporta mais. “Ficam querendo me diminuir me chamando de louca, doidivana. É a maneira que costumam usar para desmerecer uma mulher”, comentou o que diziam alguns juízes de seu tribunal.

A seguir, alguns trechos da reportagem.

Sobre pagamentos e holerites:

Soube-se, por fim, que os dois ministros do Supremo que tinham-se posicionado contra a ação da corregedoria, Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski –e fizeram carreira no tribunal de São Paulo– receberam 700 mil reais cada um de passivos trabalhistas. A própria Eliana Calmon recebera 421 mil reais de auxílio-moradia. “Recebi sim, em três parcelas, assim como toda a Justiça Federal”, disse ela. “Não foi como em São Paulo, que uma turminha de amigos foi privilegiada, recebeu antes da maioria e tudo de uma vez”. Perguntei se ela se referia a Peluso e Lewandowski. “Não sei se estão no grupo porque não pude entrar em São Paulo, lembra?”, respondeu.

Sobre o relatório do Coaf:

“Vinha conselheiro querer saber que desembargador estava listado! Não tenho ideia, não tive essa informação. A Associação dos Magistrados insiste nisso porque é a única maneira de justificar essa postura corporativa descabida”.

Sobre viagens a convite:

“Aceitar viagem que não seja de trabalho, presente de quem não conheço, isso é baratear a toga”. (…) “Mas é uma prática infelizmente arraigada nesse meio”. (…)

[A ministra] lembrou-se da ocasião em que um colega, ministro do STJ, disse achar um absurdo o tribunal não pagar a passagem de sua mulher quando ele viajava a trabalho. “Eu respondi: ‘Você tem toda a razão! Tinha que pagar a passagem e ainda dar um salário a ela. Porque ela vai dormir com você e tem que ser remunerada por isso'”, contou. Ficaram semanas estremecidos.

Sobre a tentativa de enfraquecer o CNJ, a repórter ouviu o antecessor de Eliana Calmon, ministro Gilson Dipp, que atuava em sintonia com o então presidente do órgão, Gilmar Mendes:

“Eu e o Gilmar tínhamos o Conselho; nos reuníamos e saíamos com um denominador comum”, disse. “É diferente do que ocorre hoje, quando há uma clara divisão interna entre os membros do CNJ, alguns colocados ali para enfraquecer o próprio órgão. É uma batalha de vaidade e interesses, o que propiciou que o corporativismo viesse à tona”.

Comentários

  1. Essa Ministra Eliana é demais!! Valente, bota o dedo na ferida e ainda é espirituosa em suas respostas. A da passagem para a mulher do ministro do STJ foi antológica!
    Bom trabalho Ministra!!

  2. Não vale a pena comentar. Muita vaidade da parte desta senhora que agora quer se dizer vítima de discriminação, ora, ora…

  3. Sobre o auxílio: “Recebi sim, em três parcelas, assim como toda a Justiça Federal”, disse ela.
    Ministra Eliana, com todo o respeito, não foi “toda a Justiça Federal” que recebeu o auxílio-moradia. Na verdade, nenhum juiz federal de primeira ou segunda instância recebe auxílio-moradia; os únicos juízes federais que recebem auxílio-moradia são aqueles que assessoram no CNJ ou nos Tribunais Superiores, ou seja, aproximadamente 000,1% dos colegas.

      1. Os juízes estaduais também não tem esse direito, pelo menos não no PR.
        Mas a ministra recebeu uma bolada, não é? Para ela não tem problema? Só para os outros?

  4. Fred eu sou assinante da Piauí e tive a oportunidade de ler o artigo, muito bom por sinal. No entanto, acredito que a Corregedora Eliana Calmon deve toda sua popularidade e imagem aos seus detratores. Nenhuma assessoria de impressa teria feito trabalho melhor em divulgar essa senhora. Não foi autopromoção ela foi promovida pelos que queriam destrui-la. A aura de “Robin Hood” de saias foi o resultado alcançado em função dos ataques virulentos e violentos a que foi submetida. É quando isso acontece que podemos dizer “tiro saiu pela culatra”?

  5. Será que o CNJ algum dia terá coragem de apontar o Código de Ética da Magistratura para algum Magistrado? Eu não me recordo de ter visto essa Corregedora do CNJ fazer algum elogio aos Magistrados, só sabe criticar, criticar e criticar. O Código de Ética não se aplica à ministra?

    1. Realmente, a ministra só desqualifica o Judiciário. Cadê o código de ética aprovado pelo próprio CNJ ?
      Até quando os juízes brasileiros terão que ler na imprensa essas insinuações ?

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