Segredo de polichinelo e angústia de Lagrasta

Frederico Vasconcelos

Sob o título “A cortina de fumaça e a angústia do magistrado”, o repórter Fausto Macedo publicou, na edição deste sábado (31/3) do jornal “O Estado de S. Paulo“, texto sobre a perseverança do desembargador Caetano Lagrasta Neto, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em defender a divulgação dos nomes de quem recebeu indevidamente pagamentos antecipados naquela Corte.

Lagrasta é o autor de manifestação que foi enviada em dezembro passado ao recém-eleito presidente do TJ-SP, Ivan Sartori, pedindo transparência nas investigações internas. Alertava que o “segredo de polichinelo” –ou seja, o sigilo em torno de algo que todos já sabiam– colocava toda a cúpula do tribunal sob suspeição. Na ocasião, sua mensagem foi reproduzida neste espaço (veja a íntegra no final deste post) e ganhou o apoio de colegas da Corte.

Eis trechos da reportagem deste sábado em “O Estado de S. Paulo“:

Aos 68 anos, desde 1975 a toga é sua vida. Caetano Lagrasta Neto é um homem angustiado. Nos arredores da Sé, no 18.º andar, o desembargador contempla o retrato dos filhos e netos, sobre o armário do gabinete no Tribunal de Justiça de São Paulo. “É um final de carreira melancólico o meu, apontado na rua, no clube, em família.”

Apontado, ele diz, como um dos milionários da corte, aquinhoado com pagamento antecipado de grande soma, o que não é verdade. A infâmia o desconforta, por isso clama pela publicação da lista dos bem pagos. “Escuto toda hora:‘ Você recebeu?’ Eu nem falo mais que sou desembargador.”

Caetano Lagrasta Neto é uma tradição na maior corte do País. Sua palavra, atestam os pares, tem o peso de uma sentença. “Amanhã meus netos vão comentar: ‘Olha o que aconteceu no tribunal e o nosso avô estava lá’. Eu não queria isso. Depois de uma vida inteira sem uma única reclamação, uma vida limpa, é este o prêmio que recebo.”

(…)

Lagrasta, da 8.ª Câmara de Direito Privado, não está em lista nenhuma. Nem ele nem outros desembargadores que também vivem dias de aflição e o apoiam na cruzada para a corte tornar público o rol de magistrados que podem ter violado o princípio da impessoalidade.

Não é de hoje que Lagrasta defende a divulgação dos nomes protegidos pelo manto do sigilo e do corporativismo. Em 21 de dezembro, ele enviou e-mail ao atual presidente, Ivan Sartori, de quem é amigo. “Prezado Ivan. Este segredo de polichinelo prejudica a todos, colocando-nos sob suspeita, ao mesmo tempo em que preserva os que se aproveitaram da amizade ou do conluio para desobedecer a preceitos legais.”

Em janeiro deste ano, este Blog publicou artigo de Lagrasta, sob o título “Judiciário: afinal, por onde anda a verdade?” A seguir, trecho do texto do desembargador no site do TJ-SP (*):

Quando o Conselho Nacional de Justiça se propõe a “devassar” as corregedorias estaduais, ninguém, nem o mais parvo dos homens, em sã consciência poderá dizer que isso não é justo ou possível. Os documentos que todo cidadão deve exibir ao FISCO não eximem juízes ou servidores, lógico que, resguardado o sigilo e a segurança de todos.  Assim, se há diferenças entre ganhos, gastos ou movimentações, suas razões devem ser apuradas (herança, prêmios, loterias etc). Pois bem, a mixórdia começa quando o que se pretende apurar – pagamentos atrasados e legalmente previstos, além da atualização monetária – são misturados leviana e mentirosamente com “venda de sentenças ou acórdãos”, tráfico de influência, corrupção ou atividade mafiosa, de bandidos travestidos de juízes, por trás de suas togas.

Sobre a eleição de Sartori, Lagrasta comentou neste Blog, em 8 de dezembro último:

A eleição representa o anseio da maioria, reconhecido o inegável valor do anterior Presidente, mas também indica a renovação de um quadro de auxiliares e desembargadores mais próximos, como forma democrática de vivificar a Administração.

Eis a mensagem que Lagrasta enviou em dezembro ao presidente eleito do TJ-SP, com cópias ao vice-presidente, Gonzaga Franceschini, e ao corregedor, José Renato Nalini. A íntegra, que chegou ao conhecimento deste editor, foi reproduzida no dia 22/12/2011 neste espaço, com autorização do desembargador:

Prezados Ivan, Franceschini e Nalini, a partir da notícia de hoje (Folha, 20/12, citado o nome do Ministro Lewandowski), sobre adiantamento ilegítimo de verba devida, com desrespeito à  impessoalidade, a magistratura de SP aguarda seja complementada a integral divulgação dos nomes, ao menos que o seja para conhecimento dos próprios Pares.

Este “segredo de Polichinelo” prejudica a todos, colocando-nos sob suspeita, ao mesmo tempo em que preserva os que se aproveitaram da amizade ou do conluio para desobedecer preceitos legais.

Que respondam por isto, é o que se espera de um Conselho Superior da Magistratura eleito de forma consagradora e que, se espera, irá representar a juventude e a mudança.

Caetano Lagrasta

(*) http://www.tjsp.jus.br/Institucional/SecaoDireitoPrivado/Doutrina/Doutrina.aspx?Id=1941

Comentários

  1. Olá! Caros Comentaristas! E Fred! Inegável que quando uma desastrada corregedora coloca todos na mesma vala e descrédito por completa irresponsabilidade e falta de critérios cria-se sobre a categoria JUÌZES/JUÍZAS uma desconfortável condição de narizes torcidos. O problema está em que o CNJ comportou-se ILEGALMENTE e INCONSTITUCIONALMENTE, pois, pretendia INVADIR a privacidade e intimidade de TODOS, – SEM – repito, – SEM autorização judicial. E isso NÃO pode. Essa conduta do cnj, deve como foi, REJEITADA pela TOTAL ILEGALIDADE. Como disse em outro, uma conduta dessas na esfera privada produziria a IMEDIATA demissão da corregedora e de todos que apoiaram essa BARBÁRIE contemporânea contra os JUÍZES e JUÍZAS do BRASIL, visto que não os separo entre desembargadores ou ministros. JUÍZ e JUÍZAS são sempre e enquanto. O FOCO é o documento produzido pelo cnj que afronta e afrontava a Constituição Federal. Isso é INADMISSÍVEL. Minhas críticas ao cnj – encontram-se exatamente – NOS ESTRAGOS feitos aos BONS JUÍZES/AS, pessoas HONRADAS em sua MAIORIA, sendo ínfimas as exceções, colocadas em suspeição por uma CORREGEDORA IRRESPONSÁVEL e por um cnj que busca holofotes eleitorais e promoção política. Ainda, agindo ilegal e inconstitucionalmente. É disso que se trata. E mais, entendo que os JUÍZES e JUÍZAS prejudicados por esse ato IRRESPONSÁVEL contra eles, JUÍZES e JUÍZAS, deveriam buscar na JUSTIÇA brasileira e, se isso NÃO for possível, nos TRIBUNAIS INTERNACIONAIS a justa reparação de sua dignidade. Ações contra o ESTADO arbitrário e totalitário brasileiro. A ocorrência produzida pela corregedora MERECE reparos em MILHÕES pela produção IMORAL contra o judiciário e seus Servidores/as. É como penso. OPINIÃO!

  2. Fred o Desembargador Caetano Largasta esta coberto de razão na sua reivindicação. Ela é obvia. A nossa Justiça esta tão mal das pernas, tão incompetente na condução das demandas, que não se faz presente nem para os seus pares. Se dentro do Poder Judiciário inexiste Justiça para os seus próprios membros, o que pode esperar os cidadãos do pais.?

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