Toldo: “Corporativismo levou ao isolamento”
Presidente eleito da Ajufe quer o retorno da autoestima pelos juízes federais
O presidente eleito da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Nino Oliveira Toldo, é um crítico da gestão de Gabriel Wedy, que considera “excessivamente corporativa e desnecessariamente agressiva”.
Toldo obteve 48% dos votos válidos, derrotando o candidato da situação, Roberto Veloso (31,9%). [Veja o post seguinte sobre o resultado das eleições].
Em entrevista que concedeu a Pedro Canário, publicada no site “Consultor Jurídico“no último dia 26/3, Toldo disse que pretende se contrapor ao que Wedy fez nos últimos anos.
Segundo o novo presidente, a estratégia de Wedy de defender a greve dos juízes federais como forma de reivindicação de reajustes acabou por colocar a opinião pública contra a carreira: “Depois de anos de trabalho para a Ajufe chegar a um patamar de credibilidade e respeito perante os interlocutores de assuntos relacionados à magistratura federal, a atual gestão da nossa associação nacional perdeu a capacidade de interlocução e não conseguiu nenhum ganho significativo para os associados”.
A seguir, trechos da entrevista:
A falta de reconhecimento, interno e externo, do trabalho da magistratura faz com que os juízes tenham uma perigosa baixa autoestima. Tudo isso constitui uma gama de problemas que precisam ser discutidos adequadamente. A magistratura precisa ser valorizada em todos os sentidos. Se a sociedade pode — e deve — cobrar a magistratura, em contrapartida deve dar aos magistrados um sentido de carreira, que havia, mas foi perdido.
(…)
A atual diretoria optou por uma condução política excessivamente corporativa e desnecessariamente agressiva, que levou a Ajufe ao isolamento institucional, ao descrédito por parte de importantes interlocutores, à impopularidade e a nenhuma conquista relevante. Valeu a pena? Entendo que não. A Ajufe, nessa gestão, perdeu o rumo, afastando-se de seu papel fundamental, que não é apenas o de defender interesses corporativos, mas também o de lutar pelo aperfeiçoamento das instituições democráticas.
(…)
Tenho grande respeito pelo trabalho da Polícia Federal, instituição que é composta por inúmeras pessoas da mais alta seriedade e comprometimento com o interesse público. O fato é que, tradicionalmente, o Direito Penal, no Brasil, tem funcionado apenas para uma parcela desassistida da população, o que deveria ser motivo de vergonha para nós, como nação. Funda-se aí a falsa crença de que cadeia é para pobre. Vejo em algumas reações a operações da Polícia Federal a manifestação de uma parcela da sociedade que não estava acostumada a ser confrontada com as normas penais.
(…)
Não quero dizer, com isso, que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal não tenham cometido erros em algumas operações. Mas esses erros, quando ocorreram, foram percebidos pelo Poder Judiciário, se não pelo juiz de primeiro grau, pelos tribunais regionais federais ou por tribunais superiores. O que importa ressaltar é que o juiz, dentro desse sistema, não tem compromisso com a acusação ou com a defesa, mas com o processo penal justo. Os juízes federais brasileiros têm consciência disso.
Embora com certo atraso, tomei conhecimento da boa nova e me regozijo com a perspectiva de novos tempos e novos rumos na AJUFE. Como advogado público, sentia vergonha alheia pela postura de beligerência gratuita e inocuidade onerosa, consubstanciada no desperdício de recursos materiais e, sobretudo, imateriais da outrora conceituada Associação, cujo prestígio há de recuperar com ações menos espalhafatosas e mais efetivas, na qual se busque a visibilidade da entidade e não de seu dirigente, sabe-se lá com que propósitos… Faço votos de pleno êxito para os novos representantes da importante carreira jurídica que, pela entrevista ora comentada, será muito melhor conduzida em suas justas reivindicações. Abaixo o corporativismo seja onde for!
O problema está quando o juiz ou tribunal acha que a PF ou oMP errou, porque não entende como se desenvolve uma investigação, e estraga anos de trabalho, levando à impunidade.
Exercícios de humildade, diante do desconhecido, iria bem.
Não é falsa a crença popular que cadeia é para pobre, principalmente quando se trata de “latrocínio” do erário (não é furto, pois a caneta corrupta do agente público é pior que arma de fogo, e, seguramente, mata mais), pois é notoriedade histórica a impunidade nos crimes de colarinho branco.
Para mudança de paradigma, convido os Magistrados a visitarem o pronto socorro público e a escola de periferia na hora da merenda. Provavelmente dirão que já o fizeram, no entanto, desta vez de forma diferente, refletindo sobre o destino das verbas públicas a cada sucessão de triste imagem que fatalmente virão aos olhos e, caso creiam, orando aos seus mentores espirituais.
Desta forma, sentirão na alma, e não imaginarão de forma longínqua e abstrata, o mal que a corrupção impune faz à população, principalmente à parcela desassistida, espoliada.
Desta monta, surgirá naturalmente a indagação da responsabilidade pela manutenção desta umbrálica cadeia de eventos, retroalimentada, proporcionada pela impunidade de corruptos e corruptores.
Como homens bons, probos e comprometidos, tendo a visão da corrupção sob outro prisma, outro entendimento de sua real dimensão, não como um delito menor e inerente a cultura, mas o monstro sombrio que ela é, seguramentemente não fugirão de suas responsabilidades e desafios.
Realmente, essa tal greve de juízes federais pegou muito mal e atingiu outros setores da magistratura que não compactuavam com a ideia. A reivindicação de melhores condições de trabalho para membros de um Poder (Judiciário) não pode descer a esse tipo de manifestação.