TRT afasta juiz ligado a grupo de Cachoeira
Tribunal de Goiás abre processo para apurar atos de Júlio César Cardoso de Brito
Reportagem de autoria do editor deste Blog, publicada neste sábado (14/7) na Folha, revela que o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, com sede em Goiás, afastou de suas funções o desembargador Júlio César Cardoso de Brito, acusado de envolvimento com o empresário Carlinhos Cachoeira.
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e documentos encaminhados ao TRT pela 11ª Vara Federal Criminal de Goiás sugerem que Brito fazia tráfico de influência e orientava advogados do grupo de Cachoeira a lidar com ações no tribunal.
Por unanimidade, os desembargadores do tribunal decidiram nesta quinta-feira abrir processo disciplinar para investigar denúncias apresentadas pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Sindicato dos Servidores Federais em Goiás.
Na véspera, Brito pedira licença de suas funções de vice-presidente e corregedor. O TRT designou o desembargador Platon Teixeira de Azevedo Filho para assumir as funções de Brito enquanto durarem as investigações no tribunal.
O processo inclui 77 ligações interceptadas pela polícia, em que o desembargador conversa com um dos braços direitos de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, que Brito trata como “irmão”.
Nas conversas, o desembargador discute situação de empresas com ações trabalhistas no TRT de Goiás, entre elas o laboratório Vitapan, de Cachoeira, a distribuidora de medicamentos JC, de um irmão do empresário, e a Ideal Segurança.
Há suspeitas de que uma viagem do desembargador a Buenos Aires foi patrocinada por Gleyb. Numa das conversas gravadas, um operador de Cachoeira discute com Brito a encomenda de um computador que o empresário traria para ele de Miami (EUA).
O juiz disse que não atuou no julgamento de ações de interesse das empresas, mas a corte entendeu que ele orientava advogados do grupo trocando mensagens com identificação de processos para acompanhamento no TRT.
O envolvimento de Brito com Cachoeira foi investigado inicialmente por uma comissão de sindicância, instaurada em maio, após reportagens publicadas pelos jornais “O Popular“, de Goiás, e “Correio Braziliense“, de Brasília, revelarem as ligações do desembargador com o grupo de Cachoeira.
O desembargador alegou em sua defesa nos autos que não houve qualquer influência sua no julgamento de processos.
Disse que mantinha convívio social com Gleyb Ferreira da Cruz e com o delegado da PF (afastado das funções) Deuselino Valadares dos Santos, não chegando a amizade íntima ou a algum vínculo negocial.
Sustentou que conhecia superficialmente Carlinhos Cachoeira, sem nenhum convívio diário.
Disse que na viagem com sua mulher a Buenos Aires, acompanhados de Gleyb Ferreira da Cruz e Marcos Antônio Ramos, cada um viajou por sua própria conta.
Se for verdadeira a suspeita, deve haver outros envolvidos. Um juiz de TRT não iria se comunicar com os advogados de alguém para passar informações a respeito do andamento dos proceso, já que essa informação está disponível na internet.