Declaração de voto para o cidadão fiscalizar

Frederico Vasconcelos

 “Ninguém é imparcial, não existe neutralidade”, afirma magistrado.

De Alfredo Attié Jr., Doutor em Filosofia da USP e Juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Não sei se sabem, mas aos magistrados é vedada qualquer manifestação política.

Não sei se acho isso certo, mas tendo a dizer que não é certo.

Como se sabe, o poder judiciário participa das eleições, no Brasil, coordenando-as e fiscalizando a aplicação das regras eleitorais. Nem sempre foi assim .

Também os magistrados são aprovados ao exercício da magistratura em concursos, preparados pelos tribunais, hoje com a fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (que as pessoas chamam de controle externo, mas não é externo, nem controle, propriamente). Nem sempre foi assim.

Já houve época, no Brasil, em que os magistrados envolviam-se na política partidária e formavam um número relevante de políticos eleitos para as diversas legislaturas.

Já houve época, no Brasil, em que os magistrados eram eleitos para o exercício de suas funções (não todos e não para todas).

Acho que é correto que os magistrados não se envolvam na política partidária e que não sejam candidatos.

Mas a República estabeleceu as regras de distanciamento, imparcialidade e neutralidade.

Essas três coisas não existem: ninguém se distancia daquilo que lhe interessa. Ninguém é imparcial, não existe neutralidade.

Uma maneira de criar a imparcialidade é a declaração de voto, a admissão da parcialidade, publicamente, para que os/as cidadãos/ãs possam fiscalizar.

Já escrevi sobre isso, aqui e (alhures, dizem os juristas) fora daqui, publicando minha opinião.

A imprensa, por exemplo, não é imparcial e deve declarar a quem apóia, quem prefere (como fez, aliás de modo correto, o “Estadão”, na eleição passada à Presidência da República, dizendo apoiar Serra).

Eu acho que os que exercem função pública devem se submeter a tal controle, por meio da admissão de suas preferências, como esforço de construir a imparcialidade, o que só resulta de uma relação com o outro, no caso, com o público a que servem ou deveriam servir.

Comentários

  1. Concordo totalmente. Qualquer órgão de comunicação deveria compulsoriamente declarar suas preferências e, talvez, deixar isso muito claro em suas edições impressas, em vídeo, em áudio ou na própria Internet. Mais que isso, acho extremamente saudável os juízes, desembargadores e ministros declararem suas preferências, como o fez recentemente Joaquim Barbosa.

Comments are closed.