Mensalão: fatiamento dissecou o esquema
De Ana Lúcia Amaral, Procuradora Regional da República aposentada, sobre o julgamento da ação penal do mensalão, em comentário enviado ao Blog:
Por força de tantas e tantas vezes o errado ter dado certo, quando assim não acontece os beneficiários diretos e indiretos da impunidade ficam atônitos.
Assistimos, nos últimos tempos, a anulações de investigações, matando processos em já estado avançado de evolução, diante da repetição, como mantras, de postulados constitucionais pelas defesas feitas pelos mesmos patronos dos réus do denominado mensalão.
O ministro Joaquim Barbosa, diferentemente dos novelistas brasileiros, contou de forma brihante o enredo trazido na denúncia: com começo, meio e fim. Não esqueceu de fatos, costurando-os de forma coerente até para leigos.
Enquadrou fatos a normas penais, comportamentos a seus autores/agentes, analisando a capacidade de cada conduta na realização do intento criminoso, fixando a responsabilidade de cada um dos envolvidos.
Não sou admiradora do ministro Gilmar Mendes. Todavia, tenho que reconhecer que seus votos foram elaborados com tal qualidade técnica, distanciando-o de votos outros, em episódios lamentáveis.
O tal fatiamento, tão criticado, foi a forma mais didática com a qual foi dissecado, ao vivo, o corpo de um esquema criminoso.
Quem não quer entender, que se faça de desentendido, mas não substime a inteligência alheia.
Eu estava descrente, a confluência astral indicava que o resultado do mensalão não mudaria nada, que a condenação quase certa de seus operadores e beneficíários viria apenas salvar as aparências e justificar o sistema. Mas a própria jurisprudência do STF, tradicionalmente tão desapegada da realidade e leniente aos bandidos, principalmente os de colarinho branco, mudou substancialmente. Então, se não se tratar apenas de influxo da ocasião, é necessário agora ir à caça dos outros, porque é de mensalões e mensalinhos que vive a política brasileira.
Os astros, pelo menos no julgamento dessa Ação Penal – mensalão – não estavão alinhados, em uma conjugação favorável
aos réus, como diria um certo Ministro.