A viagem sem volta, segundo Ayres Britto

Frederico Vasconcelos

A seguir, trechos do discurso do presidente do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto, nesta segunda-feira (5/11), no “VI Encontro Nacional do Judiciário”, em Aracaju (SE):

“Vivemos novos tempos, de maior transparência, de um Poder Judiciário mais republicano, com compromisso mais vivo com ética, civismo e democracia”.

(…)

“Não estamos apenas, mecanicamente, mudando nossos comportamentos, estamos mudando de mentalidade, em uma viagem sem volta”.

(…)

“Judiciário subserviente, que decide de acordo com interesses da copa e da cozinha palaciana, trai a cidadania e corrompe a Constituição. Juiz covarde, receoso de retaliações, é um juiz que trai sua missão”.

(…)

“Como julgador de fato, só deve falar nos autos; mas quando é eleito para cargo de administração, tem sim contas a prestar com a sociedade, tem de se relacionar bem com a mídia, dando mais transparência e visibilidade ao trato da coisa pública”.

(…)

“As partes não podem ficar ignoradas à sua própria sorte e ter de recorrer ao advogado para entender a linguagem hermética, pedante e fechada do próprio magistrado”.

 

Comentários

  1. Tenho uma dúvida. Por que no site da AJUF (Associação dos Juízes Federais) não aparece uma linha sobre a greve dos servidores públicos e inversamente no site do Sindicato do Servidores Públicos esta luta (dos juízes) é lembrada e ressaltada. Será que só olhamos para cima e necessitamos nos espelhar “no outro”. Será que só somos dignos quando o “de cima” ganha muito mais que o de baixo? Será que as distorções entre o maior e o menor deva ser tão grande? Realmente não sei. Sei que necessitemos mais estudo sobre o assunto. Ademais, ninguém fica bom em uma atividade sem muita prática. Os consursos para todos os cargos públicos servem para eliminar àqueles com menos conhecimento (menos erudição), pois o número de candidatos é muito maior que o de vagas oferecidas. Na prática temos servidores que tem uma “inteligência laboral” muito maior que muitos eruditos. Erudição não é necessariamente inteligência.
    Fauto – Servidor Público Federal

  2. Embora não devesse haver lugar para revanches, o Judiciário está pagando pela sua ação (ou omissão) durante os anos de chumbo. A anemia do Poder naquele período está tendo reflexos agora. Não custa lembrar que, após a lei 5010/66, os primeiros juízes federais foram nomeados (escolhidos a dedo) pelo regime vigente.

  3. Um antigo Procurador de um grande Estado, com trânsito nas negociações entre Governo e Tribunal de Justiça, contava casos escabrosos de troca de favores, desde o julgamento de temas de interesse da Fazenda Pública até casos personalíssimos, tudo em troca de verbas, suplementações, prédios, o escambau. Ainda há pouco, na posse de novos juízes, um ex-governador fez-se presente para anunciar que velava pelo destino de “seus meninos”… e não consta que ele seja gay. Ao mesmo tempo, com a vacância de cargo comissionado no Tribunal, seu presidente afastou os pretendentes legítimos com o argumento de que ele “era” do governador tal. Entre estes fatos e a poesia de AYRES BRITTO há enorme distância.

  4. Se não conhecêssemos o dia a dia do judiciário até que poderíamos acreditar nesse belo discurso. Não passa de um belo discurso!
    O Brasil ainda caminha pouco em direção à seriedade e o Judiciário, amontoado de nomeações, indicações e comissionados, sequer caminha.
    “Saudações a quem tem coragem”,
    Att,
    Analista Judiciário da União

    1. Sr. Emídio,
      estou de pleno acordo com a sua fala. Eu só acrescentaria que o Dr. Ayres Britto não deve ter acompanhado as decisões da Ministra Eliana Calmon à frente do CNJ, tentando promover mudanças no TJ-SP. Além disso, o presidente do STF não deve também acompanhar as decisões últimas proferidas pelo mesmo CNJ punindo magistrados(?) que misturaram a coisa pública com sua vida “privada”.
      Poesias, poesias, o que seria delas não fosse Dr. Ayres Britto?

      1. Amigo Beto Silva
        Seu comentário é plenamente pertinente, mas gostaria de acrescentar ao meu comentário originário que o CNJ que se cuide, pois presidido conjuntamente pela Presidência do STF está quase virando farinha do mesmo saco. Tenho conhecimento de muitas decisões no mínimo demagógicas ou mesmo político-partidárias proferidas pelo seu colegiado, inclusive quanto aos nomeados, apadrinhados e comissionados antes citados.
        A nossa democracia tem sempre encontrado um jeitinho de misturar as farinhas.
        Abraço,

    2. É verdade, Sr. Emídio.

      O Judiciário Tupiniquim tem muito que melhorar mesmo, corrigindo diversas distorções existentes.

      Afinal, só aqui no nosso querido Brasil vemos o Analista Judiciário, que tem menos responsabilidade, ganhar mais que seu superior hierárquico o Juiz Federal.

      1. Sr. José
        A exceção nunca será a regra. Depois de 15 anos de trabalho, em final de carreira, um Analista ganha 10.000 reais. o Juiz inicia sua carreira com 21.700 reais.
        Com a realidade dos números é mais fácil dizer quem ganha mais.
        Onde estão seus números? Na exceção ou na regra?
        Abraço

  5. É uma viagem sem volta mesmo, no qual só os despreparados e os piores ainda vão querer ser juiz, até pq não vão conseguir passar em nada melhor mesmo.

  6. Tudo muito bonito,mas quando se trata de julgar as inúmeras,repito,inúmeras ações que contestam a perda do poder aquisitivo dos subsidios da magistratura,O café ainda sai requentado da copa e cozinha palaciana nao eh mesmo?….

  7. As mudanças vêem, e serão irreversíveis. Ningue´m aguenta mais manter um judiciário com um pensamento de de 200 anos atrás. Parabens Ministro CARLOS AYIRES BRITO, por enxergar tão longe e de forma transparente. Na verdade, ainda, fata a nova LOMAM.

    1. Além do discurso bonito e pomposo, o fato é que A NOVA FACE DO JUDICIÁRIO É DE SUBMISSÃO AOS DESMANDOS DO GOVERNO. Desde a gestão do Gilmar Mendes, passando por Cesar Peluso, e agora por Ayres Britto, quem comanda a gestão orçamentária e administrativa do Judiciário, decidindo o que pode e o que não pode ser feito, é o executivo. Quem impõe o orçamento é o executivo, ou seja, quem decide o que pode ser implementado, seja reposição salarial ou projetos institucionais, não é mais o Judiciário, que está cada dia mais covarde, escondido atrás de discursos como este, para tentar esconder o vergonhoso rabo entre as pernas. Enquanto isso o jurisdicionado não entende porque o judiciário não evolui, e os magistrados e servidores assistem incrédulos o Poder Judiciário se tornar apenas um órgão subordinado ao executivo.
      Não me impressiona que ex-presidente já esteja pautando decisões judiciais em reuniões com ministros do STF (como divulgado por Gilmar Mendes).

      1. Cobrem uma LOMAM nova. Assim vcs conseguem assegurar seus direitos. Retirando dali aqueles direitos inconcebíveis.

      2. Prezado Gustavo
        Concordo com suas palavras. O Judiciário virou o quintal do Executivo, que nomeia seus parceiros da toga preta.
        A composição dos Tribunais deveria ser eleita pela própria magistratura. Do contrario, assistiremos cada vez mais Ministros do STF “advogarem” causas de interesse do Executivo e discursarem para a platéia.
        Abraço

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