Como será a disputa na sucessão de Gurgel
Campanha eleitoral para a lista tríplice da ANPR tem início na próxima semana
A campanha para a indicação do próximo Procurador-Geral da República coincide com o momento em que o Ministério Público Federal enfrenta pressões externas para redução de seus poderes de investigação. O processo sucessório ocorre quando o atual PGR, Roberto Gurgel, é alvo de iniciativas para desgastá-lo, que partem de setores atingidos por sua atuação [caso do mensalão, por exemplo] ou pela demora em agir [episódios envolvendo investigações contra o ex-senador Demóstenes Torres e o senador Renan Calheiros].
Esse cenário sugere que os subprocuradores Rodrigo Janot, Deborah Duprat, Sandra Cureau e Ela Wiecko, que disputam indicação para a lista tríplice organizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), concentrarão seus discursos para o público externo no fortalecimento do órgão e na valorização da carreira.
Nos quatro posts seguintes, o Blog apresenta rápidas entrevistas com os candidatos sobre como desenvolverão suas campanhas a partir da próxima semana –e, resumidamente, quais serão suas prioridades.
A “ampliação do diálogo com todos os segmentos da sociedade” é a principal meta de Janot. “Tenho propostas para superar o isolamento institucional em que o MPF se encontra, modernizar a gestão da casa, torná-la mais ágil e eficiente”, diz.
Ela Wiecko também espera “mudar o modo com que o PGR se relaciona internamente e ter maior protagonismo politico”.
“Minha principal meta é reerguer a instituição, torná-la novamente próxima da sociedade”, diz Deborah Duprat.
Igualmente, não se deve esperar uma campanha marcada por troca de acusações. “Somos todos colegas, somos amigos. Não estamos disputando o cargo senão para servir ao país, à sociedade”, diz Sandra Cureau.
A entrada de Ela Wiecko na disputa, nesta quinta-feira, reforça a expectativa dos que apostam na preferência da presidente Dilma Rousseff por indicar mulheres para cargos de comando. Apenas nesse aspecto, Janot passa a ser um concorrente minoritário, disputando com três candidatas. Os quatro têm experiência acumulada, o que torna desnecessário listar currículos.
Eles deverão valorizar, da mesma forma, o processo de escolha a partir da lista tríplice oferecida pela ANPR. Nos últimos dez anos, as indicações presidenciais respeitaram essa consulta interna.
Esta eleição difere de outras porque não há uma indicação declarada de apoio do PGR. E, principalmente, porque o colégio eleitoral aumentou, metade da base eleitoral está no interior.
O fato novo é a opção de Rodrigo Janot por profissionalizar sua campanha, contratando uma empresa de assessoria de imprensa e relações públicas numa eleição entre colegas procuradores.
A questão foi mantida nas entrevistas publicadas a seguir por causa do desencontro de informações. Inicialmente, uma assessora se apresentou ao Blog como integrante da equipe do subprocurador. Ao se constatar que não trabalhava no gabinete do candidato, mas numa firma de assessoria externa, alegou que se tratava de “apoio voluntário”.
Questionado se era saudável esse tipo de ajuda voluntária, Janot informou que havia contratado a empresa.
“Não vejo na prática de contratar assessoria de imprensa qualquer ilegalidade ou imoralidade. Temo, no entanto, a ‘monetarização’ dessa campanha”, disse Deborah Duprat.
“Eu não tenho apoio de qualquer assessoria externa de relações públicas ou do que quer que seja. Nem consigo imaginar uma coisa dessas”, diz Sandra Cureau.
Ela Wiecko considera adequado contratar uma assessoria, pois os candidatos são instados a conceder entrevistas. “Mas é inadequado a qualquer servidor publico dever favores a uma empresa privada”, diz.
“Contratei o trabalho porque considero obrigatório que essa relação seja profissionalizada”, diz Janot. “É pueril imaginar que um procurador da República, que goza de autonomia administrativa e funcional, além de vitaliciedade, ficaria devendo favores a uma empresa ou a uma pessoa por conta deste tipo de serviço”, afirma.
A opção de Janot de profissionalizar sua campanha e de tirar licença para viajar pelo país indica que, nesta eleição, busca-se o apoio da sociedade para uma indicação que ainda depende de uma consulta interna aos membros do Ministério Público Federal.
Parece que o procurador já está colendo os frutos da contratação de assessoria especializada junto a imprensa – “apoio voluntário”, pois foi citado nesta matéria 7 vezes, quase o dobro dos demais Membros. Quanto ao currículo se deve deixar claro os serviços já prestados à sociedade pelos postulantes ao cargo de PGR, especialmente aqueles que foram desenvolvidos no Poder Executivo e demais poderes, se for o caso.
Caro Carlos, Acho que é uma leitura equivocada. O blog, ao contrário, questionou o procurador –e estendeu a questão aos outros três candidatos– se é necessário, numa campanha dirigida aos colegas do MPF, contratar uma assessoria externa. Registrou a imprecisão das primeiras informações que recebeu dessa assessoria e permitiu a todos os candidatos opinarem se seria adequado o candidato receber “apoio voluntário”, como alegou inicialmente a assessora. Como foi o único a tomar essa iniciativa, seu nome foi citado mais vezes. Simples assim. abs. fred
Tenho curiosidade para saber como será a campanha do procurador Rodrigo Janot nos estados, será nas procuradorias, na hora de expediente ou o candidato irá às residências dos eleitores?
Ele diz que está de licença, mas os colegas dele (eleitores) também estão ou eles terão que deixar o servido de lado para ouvi-lo em campanha?
Um político não pode ir às repartições públicas pedir voto, um procurador candidato pode?
Embora aposentada, de sorte que a escolha de qualquer um deles não me afete, é de estranhar que na fase da postulação intra-muros, membros do MPF, de tão larga experiência, necessitem de assessoria para o que for.
Ou o histórico deles fala por eles, ou não adianta buscar truques de comunicação para conversar com seus pares. Ademais, contato com a sociedade fica para depois da indicação pela presidência da República, além do que não é só o PGR que deve falar com a imprensa: todo e qualquer procurador(a) está legitimado a falar sobre o que diz respeito a seu ofício.
Mas precisa ter o que contar/dizer e de forma clara, não via frases de efeito ou subterfúgios. Sobretudo não pode recear o embate, o enfrentamento. Precisa a sociedade saber qual o lado do muro o MPF escolheu.
E tudo isso com agilidade, persistência, o que dá um trabalho danado.