O limitado lobby das medalhas de Minas

Frederico Vasconcelos

Segundo o deputado Fernando Ferro (PT-PE), “compromete a imagem do Supremo Tribunal Federal seu presidente participar de homenagem no palanque do partido que será julgado por ele no futuro”.

Em comentário na coluna “Painel” da Folha, nesta quarta-feira (24/4), Ferro se refere à Medalha da Inconfidência, que o ministro Joaquim Barbosa recebeu do governo de Minas Gerais no último dia 21/4.

Não se sabe se o parlamentar petista também entende que a imagem da presidente Dilma Rousseff ficou comprometida ao receber do governador tucano Antonio Anastasia a mesma condecoração, em 2011.

Se o deputado pernambucano, como sugeriu ao jornal, realmente acredita que a medalha concedida a Barbosa terá alguma influência no julgamento do mensalão mineiro, ou mensalão tucano, pode relaxar. Tendo assumido a presidência do STF, ele não é mais o relator do processo. E dificilmente voltará a ser, porque o acervo dele vai para o sucessor do ministro Ayres Britto.

Mas se desconfia que as medalhas mineiras têm o poder de alterar os votos dos ministros do STF em eventuais processos sobre as administrações Aécio Neves e Antonio Anastasia, o parlamentar deve ficar preocupado.

No mesmo dia em que Barbosa recebeu o Grande Colar, a também ministra do STF Rosa Weber era agraciada com a Medalha da Inconfidência.

Já foram homenageados com a Medalha da Inconfidência os ministros Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Dias Toffoli.

A mineira Cármen Lúcia coleciona treze medalhas recebidas do governo de Minas Gerais, de secretarias de Estado e de órgãos como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil daquele Estado. E ninguém acredita que essas condecorações mudem suas convicções.

Em Minas, as medalhas oficiais são usadas em abundância como instrumento político para aquecer a fogueira das vaidades e sugerir maior prestígio a homenageados e homenageantes.

A prática é tão disseminada naquele Estado, que a Justiça Federal em Minas Gerais chegou a conceder medalha a um doleiro.

Comentários

  1. Sinceramente, da mesma forma como não acredito que o patrocínio de evento de associação possa mudar entendimento de juiz, também não acredito que receber medalhas mude convicções. Todavia, da mesma forma como se limita patrocínios com a intenção de proteger a imagem da Justiça, se deveria evitar homenagens a pessoas vivas.

  2. Realmente,limitado.Mas sempre há quem se
    comova e “se ache” recebendo o galardão.
    Faz parte.São tentativas diretas de pedido de apoio político.Às vezes, levam….
    Quem não tenta não sabe se vai obter ou não a concessão ou favor desejado.

  3. É verdade. Aqui em Minas Gerais é comum. Eu mesma tenho tantas, inclusive de cidades que eu nunca pisei, mas não sei como meu nome chegou lá.

  4. Frederico, vc já foi apenas um jornalista – ao que parece, agora está também se comportando como defensor de partido político? retome o bom caminho. preferimos vc apenas noticiando.

    1. Respeito seu entendimento, mas penso que jornalista pode ter opinião própria. O profissional da imprensa não mais se limita a noticiar mecanicamente os fatos. A imparcialidade do jornalista não se confunde com neutralidade. O jornalista deve sim ser imparcial, mas jamais pode ser neutro.

  5. Foi uma bela homenagem. Tiradentes é um grande líder brasileiro e uma importante figura histórica.
    Não há norma que proíba Magistrado de ser homenageado.
    Parabéns ao Ministro Joaquim Barbosa.
    Sobre a questão ética, o evento foi público e outras figuras políticas foram homenageadas. Nada de mais, nem de menos. Não há nenhuma restrição ética sobre o tema.
    Ademais, se a sociedade for muito rigorosa, nenhum Juiz ou Ministro poderá conversar ou participar de eventos sociais com políticos, pois uma boa parte dos políticos responde a processo ou está sendo investigado.
    Vivemos em uma democracia, onde o princípio da presunção de inocência prevalece.
    Não é possível para o Juiz viver numa redoma. Temos que conviver com as pessoas em sociedade.

  6. Isso é o maior absurdo que se pode presenciar. Um juiz no meio de politicos e politiqueiros. Essas medalhas, não passam de um bobby absurdo e desenvergonhado. Isso tem que acabar, é coisa de país de terceiro mundo. É aquele negócio façam o que eu digo e não façam o que eu faço. Juiz impoluto..kkkkk

  7. A fotografia nos revela algo estarrecedor: ao lado do juiz Joaquim Barbosa, à sua esquerda, está o político Aécio Neves. Trata-se de promoção injustificada da imagem de um político que busca holofote para a sua sua candidatura. SE cabível ali deveriam estar os presidentes do TJMG e o da Assembleia estadual. Aló Ministério Público Eleitoral…

  8. Costuma-se dizer que em Minas Gerais é tão pródiga a distribuição de medalhas que muitos dos agraciados adquirem mais uma, com a anotação “V.V.”. Traduzindo, vide verso. E com ela exibida na lapela passam a usar também as costas para fixação dos mimos recebidos.

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