Sucessão na AMB gera renúncia de diretores

Frederico Vasconcelos

– Alegando insatisfação com os rumos da entidade, 22 diretores entregam os cargos

– Calandra alega divergências de diretor que pretendia ser o candidato da situação

Divergências no processo sucessório na AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e a oposição ao estilo de administração do presidente da entidade, Nelson Henrique Calandra, provocaram a renúncia coletiva de parte da diretoria da maior entidade de juízes do país.

Sob a alegação de que discordavam dos rumos assumidos pela gestão de Calandra, 22 magistrados liderados pelo vice-presidente administrativo da Associação, Marcos Daros, e pelo secretário-geral Nelson Missias de Morais, entregaram seus cargos nesta terça-feira (4/6).

Calandra diz que a renúncia reflete a insatisfação do desembargador Nelson Missias, ex-presidente da associação de magistrados de Minas Gerais, que pretendia ser o candidato da situação nas eleições de novembro. Calandra apoia a candidatura do juiz Roberto Bacellar, do Paraná.

“Não podemos obrigar meus companheiros de diretoria, e nem enfiar goela abaixo dos associados um candidato [Missias] que só aceita ser presidente, recusando-se a compor a diretoria numa chapa da situação”, afirma Calandra.

“Acho que têm que prevalecer os interesses da AMB. Apoio Bacellar, que tem 20 anos de serviços prestados à entidade”, diz Calandra. “Gostaria muito que Missias estivesse a nosso lado”, diz.

Em comunicado sobre a renúncia, os magistrados que deixam a AMB afirmam que se trata de “uma crise sem precedentes nos 60 anos de história da associação”.

“Há algum tempo, o inconformismo dos signatários deste documento quanto aos rumos administrativos e políticos dessa prestigiada entidade tem sido manifestado, sem, contudo, encontrar o eco necessário. Assim, renunciam, coletivamente, dos cargos e funções que ocupam, de forma irrevogável e irretratável”.

Segundo os signatários, a crise reflete “o sentimento da maioria da magistratura brasileira que confiou e elegeu a atual direção”.

“Faltou vontade política para a defesa do projeto original, com repercussão negativa para a administração da entidade”, diz Missias.

“Na verdade, com a atual gestão, a entidade perdeu o rumo e a identidade. Vamos buscar um novo caminho em defesa de uma magistratura altiva, independente e respeitada pela sociedade”, afirmou.

Segundo o vice-presidente Marcos Daros, “há uma frustração com a condução daquilo que seria um grande projeto político”. “Sequer tentaram implementar o projeto. Não passou de uma piada”, comentou Daros, referindo-se à falta de comando na entidade e à excessiva interferência de pessoas de fora da magistratura.

Também vice-presidente (de Interiorização), Maria Luíza Sant’ana, integra a lista de renúncia. “Deixaram de atender ‘as reivindicações dos magistrados. A AMB perdeu a identidade com o magistrado, especialmente com os juízes e juízas do interior brasileiro”.

Um dos primeiros a renunciar foi o diretor-tesoureiro da AMB, Átila Naves. “Renunciei ao cargo em outubro do ano passado por discordar dos rumos da política financeira da entidade”, disse ele, que prenunciou o atual desfecho.

Um mês depois, em novembro, seguiu caminho semelhante o diretor da Secretaria de Direitos e Prerrogativas e atual presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), Cláudio Dell’Orto. “Saí por conta das dificuldades na implementação de medidas em defesa dos direitos e das prerrogativas dos magistrados”, apontou Dell’Orto.

O diretor da Secretaria de Direitos Humanos, Gil Guerra, defendeu o revigoramento da entidade com propostas e ações que reflitam os anseios da classe. “Infelizmente, a atual gestão abandonou o projeto e não atendeu as nossas expectativas”.

O vice-presidente da Escola Nacional da Magistratura (ENM), Marcelo Piragibe, reclamou da falta de cuidado com o projeto que pretendia resgatar a valorização da magistratura. “Vamos buscar a unidade e a valorização da magistratura por um caminho novo para um novo tempo”.

Diretor da Associação dos Magistrados do Amazonas (Amazon), Flávio Pasquarelli, também apoia o movimento pela valorização da magistratura “de maneira que ela possa ser ouvida pela sociedade e pelo poder público”. Ele adiantou que a diretoria eleita da Amazon também discorda dos rumos da atual gestão da AMB.

Em abril, o juiz Roberto Bacellar, na condição de candidato à presidência da AMB, foi recebido pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori, acompanhado, entre outros, por Nelson Calandra.

Em março, Calandra havia participado de encontro na sede da Amagis, em Belo Horizonte, quando a entidade noticiou que as principais lideranças da magistratura mineira fizeram apelo para que o secretário-geral da AMB Nelson Missias fosse o candidato a presidente  nas eleições deste ano.

Comentários

  1. Solidariedade ao Presidente da AMB, Desembargador Nelson Calandra

    Sempre vi o Presidente da AMB, Desembargador Nelson Calandra, defendendo, com afinco, os interesses da magistratura. Aluisio Mendes

  2. Ai… O que não é a luta pelo poder! Entre gestão, sai festão, o fato é que a AMB continua sempre a mesma. Bem fiz ao sair, anos atrás (na esteira de uma luta fraticida, diga-se, a propósito de uma eleição). Pra nunca mais voltar.

  3. A escória deixou a AMB, graças a Deus! Já vai tarde e não, por simples coincidência, no fim do mandato, depois de terem “mamado” na atual administração durante quase três anos. É ridícula, por sua vez, a pretensão de presidir a AMB por parte de quem fez carreira às custas do associativismo, fraudando o sistema de promoções no Judiciário, como reconheceu o CNJ.

  4. Apesar de opositor ao Nelson Missias, em duas eleições para a Amagis-Associação dos Magistrados Mineiros e ser ele meu colega de concurso, da denominada “GLORIOSA TURMA DE 1996”, apoio sua candidatura à Presidência da AMB ou a qualquer outro cargo eletivo na Associação Nacional. O que Nelson Missias batalhou e conseguiu, quando Presidente da AMAGIS, certamente conseguirá a nível nacional. A Magistratura de Base Brasileira está sendo pisoteada e necessário se torna que alguém, com seu estofo, esteja à frente para por cobro a essa situação que somente acarretará danos ao povo brasileiro.

  5. Mas esse pessoal todo, que até “ontem” se apresentava como “o projeto”, agora dizem que “o projeto nunca foi implementado”? Assim fica fácil, né? É igual a AJUFE. Fazem, desfazem, refazem, em seguida reclamam dos políticos. E “o povo”. Permanece como em 15 de novembro de 1889: bestializado.

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