O voto aberto e o triunfo da retórica

Frederico Vasconcelos

“Quem estará disposto a pagar abertamente o preço de contrariar o ministro Fux?”

 

Do advogado Luiz Fernando Pacheco, em comentário publicado no site “Migalhas”:

 

O brasileiro, cansado de assistir “triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça” (Ruy Barbosa) foi às ruas. Ortega y Gasset, em “A Rebelião das Massas” já advertia, e faz tempo, que vivíamos, e, digo eu, ainda vivemos a “época das correntes e do deixar-se ir. Quase ninguém apresenta resistência aos torvelinhos artificiais que se formam em arte ou em ideias, ou em política, ou nos usos sociais. Por isso, mais que nunca triunfa a retórica”.

A população, totalmente desinformada, levou no grito a rejeição da PEC 37. Observo, apenas, que o Congresso votou, é de se frisar, acuado com a faca no pescoço empunhada por um povo manipulado na crença de que estava promovendo o bem. O tempo dirá.

Outro exemplo de que de boas intenções o inferno está cheio: querem os bem intencionados úteis acabar com toda e qualquer votação secreta no âmbito do Congresso. Parece democrático, transparente, justo, correto. Não é.

Como regra geral, o voto aberto, sem dúvidas, tem todos estes predicados. Mas em matérias específicas é deletério. Exemplo: homologação de indicação presidencial para ministro do STF.

O Senado sempre diz amém ao Executivo e é premente uma mudança no sistema atual. Mas, por enquanto, mantidas no geral as velhas regras, só que com votação aberta, como exigem os jacobinos do momento, estará aberta a porta para mais uma bárbara iniquidade no processo de escolha. Ou será que algum senador, sujeito que está a eventual jurisdição suprema, ousará votar abertamente contra um candidato que, futuramente como ministro, poderá ser juiz de sua causa?

O que, como regra geral é bom, também é péssimo na formação de lista tríplice para preenchimento de vaga de desembargador. Os magistrados do Rio votam em aberto. Parece que a filha de Fux tenciona candidatar-se. Quem dentre eles estará disposto a pagar abertamente o preço de contrariar o ministro Luiz Fux, que foi desembargador daquele órgão e que hoje integra a cúpula do Poder?

Comentários

  1. Senhor Luiz Fernando:

    O senhor perdeu uma ótima oportunidade para ficar calado. O que é nojento não é acabar com o voto secreto, que já vai tarde.
    O que é nojento é a forma como são escolhidos os membros dos Tribunais, pois ao contrário da 1ª Instância, onde se chega pelo concurso público, daí para cima é a politicagem, roubalheira, corrupção.

  2. Começar um texto citando Ortega y Gasset para depois vomitar tanta bobagem deveria ser tipicado como estelionato intelectual…Tenha santa paciência…

  3. Em meio a opinião sobre o voto aberto, o Dr. Luiz Fernando Pacheco insere um comentário sobre a rejeição da PEC 37. Como bom advogado deve estar seguindo a orientação que melhor esta em consonância com as possível defesas de clientes, atuais ou futuros, investigados pelo Ministério Público.
    Tenha santa paciência.

  4. Então quer dizer que candidato a ministro, recusado por algum membro do Congresso, se vinga no exercício da magistratura? Dito de outro modo: magistrado se vale do cargo para atingir desafetos.
    E um advogado aceita isso tão passivamente!!!
    Sinal que com voto aberto ou secreto a coisa não tem chance de melhorar…
    Pobre Brasil.

  5. Não aguenta pressão? Não se candidate a cargo eletivo. Pressões, dentro dos devidos limites, são até positivas.

    Não se pode admitir que a falta de coragem moral de nossos representantes justifique qualquer cerceamento à transparência.

  6. Desembargador com medo de votar de acordo com sua consciência? E se for julgado pelo STF, este órgão de cúpula do Judiciário, capitaneado pelo vingativo papai Fux, perseguirá o desembargador? Não teria este direito de defesa? Não há mais 10 Ministros no STF?

    Se algum desembargador não tem sequer coragem para votar no quinto constitucional de acordo com o justo, o que se dirá deste ao julgar ações de improbidade administrativa contra governador, deputados e outros colegas da própria Corte?

    Se milhares de policiais civis e militares tem a coragem de expor a sua vida e da sua família para combater o narcotráfico, qualquer desembargador que seja pusilânime a este ponto tem de ser demitido a bem da nova sociedade brasileira, que exige Justiça e transparência.

    Sim, o voto deve ser aberto, sempre, para que possamos conhecer os meandros da cúpula do TJRJ, que, assim, será submetido a avaliação popular.

  7. Desembargador com medo de votar de acordo com sua consciência? Fez algo errado para ser julgado pelo STF? E o STF, através do Min. Fux, perserguirá o desembargador? Não teria este direito de defesa? Não há mais 10 ministros no STF?

    Se algum desembargador não tem sequer coragem para votar no quinto constitucional de acordo com o justo, o que se dirá deste ao julgar ações de improbidade administrativa contra os interesses do governador, de deputados, da presidente da república e de outros colegas da própria Corte?

    Se milhares de policiais civis e militares tem a coragem de expor a própria vida e o da sua família para combater o narcotráfico, qualquer desembargador que seja pusilânime a este ponto tem de ser demitido a bem do serviço público, a bem da nova sociedade brasileira que quer Justiça e transparência.

    Sim, o voto deve ser aberto, sempre, e que tanto os covardes quanto os corajosos se manifestem para uns conhecerem os outros, e todos serem submetidos ao julgamento e avaliação popular.

    QUERO SABER QUEM VOTOU COM FUX E QUEM VOTOU CONTRA.

    É MEU DIREITO.

  8. Fiquei estarrecido quando li o último parágrafo. Quer dizer que todos os magistrados do Rio de Janeiro tem que esconder o seu voto por temor de retaliação de um Ministro do STF ? Se as coisas atingiram esse patamar de submissão a uma vontade maior, podemos declarar que realmente o país deveria fechar o seu Poder Judiciário e extinguir seu sistema jurídico-legal pois a instituição já estaria inteiramente corroída moralmente.

    1. Estava para escrever algo mais elaborado, no entanto, com o seu comentário contundente e inatacável, resta-me apenas aplaudir. Isenção, isonomia, nunca foi o forte do judiciário brasileiro, assim, pelo menos agora, com as “informações abertas”, o desvio veio para a luz do sol. Em tempo, interessante como ninguém lembra que os juízes dos juízes do Supremo são os próprios senadores.

  9. Acredito ser um Ministro sério.Entretanto,não é oportuno,neste momento,a intensão da filha do Ministro candidadar-se a cargos que dependa de indicaçao superior.

  10. Ora, ora e ora! Se os votos forem “de favor” – com medo de contrariar o juiz Fux -, não merecem aqueles desembargadores vestir a beca. Melhor requererem a aposentadoria “botar” o pijama, pois sequer terão capacidade moral para o exercício da advocacia, atividade laboral que denota contrariar incorretas decisões.

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