Eleição de Nalini e terceiro revés de Sartori

Frederico Vasconcelos

Nalini, Alckmin e SartoriA eleição do desembargador José Renato Nalini para a presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo surpreendeu os que apostavam numa disputa acirrada, a ser decidida em segundo turno.

Nalini recebeu 238 votos e obteve apoio de 70% dos 342 desembargadores que votaram nesta quarta-feira (4/12). Também disputaram a presidência João Carlos Saletti, que obteve 21 votos, e Vanderci Álvares, que ficou com 7.

Com 200 votos, Eros Piceli foi eleito para o cargo de vice-presidente do TJ-SP. Hamilton Elliot Akel venceu as eleições para corregedor-geral da Justiça, com 179 votos.

Para os juízes mais jovens, o resultado foi uma guinada conservadora no Tribunal. Perderam os candidatos mais afinados com a gestão Ivan Sartori, cuja atuação midiática tinha restrições entre desembargadores mais antigos.

“Isso sinaliza que o Tribunal de Justiça de São Paulo também sabe conciliar a tradição, a antiguidade, a experiência, com a inovação”, disse Nalini, que fará 70 anos ao fim do mandato e se aposentará compulsoriamente.

O resultado das urnas abre espaço para uma dúvida: Sartori seria reeleito no mesmo colégio, caso o Conselho Nacional de Justiça não tivesse impedido sua inscrição como candidato?

A vitória de Nalini representa um terceiro revés, em curto espaço, para Sartori e o grupo de magistrados em torno do desembargador Nelson Calandra (que desistiu de disputar a vice-presidência do TJ-SP): eles também perderam as eleições na AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), em cuja chapa da situação Sartori foi candidato a vice-presidente, e foram derrotados nas eleições da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados).

Na prática, Nalini derrotou dois fortes adversários: Paulo Dimas Mascaretti, 58 anos, jovem desembargador com boa imagem na magistratura, mas que recebeu apenas 76 votos, e Ivan Sartori, que tinha a máquina do tribunal, o apoio de juízes de primeiro grau (que não votam) e dos servidores.

A indecisão de Sartori sobre a reeleição reduziu o tempo de campanha de Dimas. Mas o maior concorrente do corregedor foi o presidente, que manteve nos últimos meses atividades típicas de quem trabalhava por um segundo mandato. Em outubro, em mensagem enviada aos desembargadores, Sartori pediu aos possíveis candidatos para “não fazer gestões paralelas no Governo ou na Assembleia Legislativa”.

Nalini se preparou para chegar à presidência. Foi o primeiro a sair candidato. Manteve agenda cheia, expôs seu nome em palestras, lançou livros e edição especial de revista da corregedoria. Participou de estudos e debates sobre a reforma do Judiciário. Como corregedor, Nalini conhece bem o Estado e a magistratura. Ele delegou correições para desembargadores, que se sentiram prestigiados.

Nalini tem diálogo fácil com o Conselho Nacional de Justiça, com o Executivo e Legislativo. O Tribunal paulista foi a grande corte estadual que, em gestões anteriores, resistiu à atuação da corregedoria do CNJ. O presidente eleito terá que aparar arestas deixadas por Sartori com o Ministério Público e a OAB.

Para o presidente em exercício da Assojuris, Carlos Alberto Marcos, a expectativa dos servidores é que a gestão de Nalini não seja pior do que a de Sartori, que “muito se esforçou para resgatar a confiança dos trabalhadores”.

Os juízes costumam dizer que o maior desafio de Nalini será fazer uma gestão melhor que a de Sartori, que mantinha rápida interlocução com os magistrados (se comunicava por e-mail e Facebook), e reuniu uma assessoria considerada eficiente.

(COLABOROU DAVID LUCENA)

Comentários

  1. O DOUTOR IVAN SARTORI FOI UM GRANDE PRESIDENTE.
    ENALTECEU E PRESTIGIOU A CAUSA DOS FUNCIONÁRIOS – ESQUECIDA NAS OUTRAS GESTÕES.
    ESTAMOS NA TORCIDA PARA QUE O PRESIDENTE NALINI CONTINUE ESSE TRABALHO EM FAVOR DA CLASSE DE SERVIDORES, NO SENTIDO DE CONTRATAR MAIS SERVIDORES E DAR MAIS CONDIÇÕES DE TRABALHO A TODOS.
    O JUDICIÁRIO TEM QUE CAMINHAR JUNTO – SERVIDORES – JUIZES – PROMOTORES – OAB E TUDO MAIS.
    UM DEPENDE DO OUTRO.
    DESEJO AO DR. NALINI UMA FELIZ GESTÃO.
    JESUS O ABRACE NESSA LUTA INCANSÁVEL.
    AINDA HÁ MUITO O QUE SE FAZER.
    E DIGO MAIS
    AS COMARCAS INICIAIS SÃO AS MAIS ESQUECIDAS. PRECISAM TER O MESMO TRATAMENTO DAS GRANDES.
    ASSIM SEJA

  2. Somente na imaginação do jornalista que a vitória foi uma surpresa…besteira, todos os juízes de São Paulo sabiam deste resultado…

  3. Sartori derrotado ontem? Não foi o que transpareceu. Ao contrário, conduziu os trabalhos eleitorais – que transcorreram em clima extremamente ameno, festivo mesmo -com serenidade e demonstrou grande alegria com o resultado. Vide, a propósito, extrato de nota publicada no sítio do TJ há pouco: ” Após a eleição do desembargador Renato Nalini para a Presidência do Tribunal, Sartori disse estar bastante satisfeito com o resultado, que já era esperado. O presidente ressaltou as qualidades de Nalini, de quem é amigo há décadas. “Trata-se de um dos homens mais cultos da comunidade jurídica e à frente de seu tempo. Fará muito pelo Tribunal e contará com todo meu apoio.”
    Hoje, Sartori voltou a criticar a imprensa, agora a Folha de S.Paulo, edição (5/12), que asseverou, falsamente, que “ele teria usado a máquina contra Nalini”. “Isso é uma mentira deslavada. Vejo, com tristeza, mais uma invectiva criminosa praticada por veículo importante de comunicação. Na condição de juiz do pleito, sempre me mantive absolutamente neutro.”

    1. Concordo com o Sr. Sergio, pois não parece crível que o Des. Ivan Sartori teria a postura descrita na reportagem, pois, afinal, sempre se mostrou coerente, solícito e probo. Bem … um ciclo se fecha e outro se inicia – Boa Sorte ao novo Presidente que certamente está apto a desempenhar com muita propriedade sua nova função!!

  4. Caro Fred, a meu ver o primeiro parágrafo desta matéria contém um equívoco: ao invés de “surpreendeu”, que tal substituir por “decepcionou”?

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