Livro questiona investigação sobre Dantas

Frederico Vasconcelos

Operação banqueiroO jornalista Rubens Valente, repórter da Folha, está lançando o livro “Operação Banqueiro”, com documentos inéditos e novas transcrições de gravações sobre a Operação Satiagraha. Ele diz que pretende “lançar alguma luz” sobre como Daniel Dantas, do grupo Opportunity, “escapou da prisão com apoio do Supremo Tribunal Federal e virou o jogo, passando de acusado a acusador”.

Valente recebeu o prêmio Esso de Reportagem em 2001 e o Grande Prêmio Folha em 2002 e 2010, em parcerias. Ele acompanhou desde 2001 quatro investigações sobre negócios de Daniel Dantas: o caso Banestado, a Operação Chacal, a CPI dos Correios e a Operação Satiagraha.

O repórter formou um acervo de 62 mil arquivos virtuais, copiou mais de 3.500 páginas dos processos e entrevistou cerca de 40 pessoas. “Quase tudo é considerado sigiloso”, diz.

A seguir, texto sobre a obra publicado na edição desta sexta-feira (10/1) na Folha:

 

Chega hoje à praça um livro que examina os bastidores da operação policial que investigou os negócios do banqueiro Daniel Dantas em 2008 e divulga pela primeira vez alguns dos documentos recolhidos durante as investigações.

Batizada pela Polícia Federal de Satiagraha, expressão em sânscrito que significa “busca da verdade”, a operação fez barulho ao provocar a prisão temporária de Dantas e outros 23 envolvidos, mas depois foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça por causa de ilegalidades cometidas nas investigações.

Escrito pelo jornalista Rubens Valente, da Folha, “Operação Banqueiro” oferece um relato minucioso do caso e uma visão crítica da atuação de autoridades que impediram que ela avançasse.

O material inédito inclui e-mails obtidos pela PF na casa do consultor Roberto Amaral, que trabalhou para Dantas entre 2001 e 2002, no fim do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Segundo o livro, as mensagens sugerem que Dantas pediu ajuda ao ex-presidente e a outras autoridades para barrar investigações que o Ministério Público conduzia sobre seus negócios na época.

Dantas, que controla o grupo Opportunity e administra recursos de investidores brasileiros e estrangeiros, adquiriu participações em várias empresas privatizadas no governo FHC, em especial no setor de telecomunicações.

Boa parte do dinheiro administrado pelo Opportunity na época pertencia a um fundo sediado nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal no Caribe, e as autoridades sempre suspeitaram que políticos e investidores brasileiros participavam desse fundo, o que as leis brasileiras proibiam.

De acordo com o livro, Amaral enviou várias mensagens a ajudantes de ordem de Fernando Henrique para se comunicar com ele. Não há registro de que esses e-mails foram encaminhados ao ex-presidente e lidos por ele.

Outras mensagens obtidas por Valente sugerem que Dantas tinha como aliado no governo o atual ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, então chefe da Advocacia-Geral da União.

Um dos e-mails sugere que Dantas contava com o apoio de Mendes numa disputa com a Agência Nacional de Telecomunicações e para manter na agência um procurador simpático a seus interesses.

Em 2008, quando Mendes estava no Supremo e Dantas estava preso, o ministro concedeu habeas corpus para libertá-lo e fez críticas públicas à maneira como as investigações foram conduzidas.

“Eu nunca vi Daniel Dantas”, disse Mendes à Folha. “Na Satiagraha, houve abuso na investigação e minhas decisões impuseram uma derrota ao Estado policial.”

Em mensagem a Rubens Valente, o ex-presidente Fernando Henrique disse que sabia da relação de Roberto Amaral com Daniel Dantas e afirmou que nunca tomou medidas para favorecê-lo.

A assessoria do Opportunity afirmou que Dantas desconhece as mensagens encontradas pela polícia na residência de Roberto Amaral.

 

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OPERAÇÃO BANQUEIRO
AUTOR Rubens Valente
EDITORA Geração Editorial
QUANTO R$ 44,90 (462 págs.)

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