“Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência”

Frederico Vasconcelos

De Sanctis na posse

No livro “Operação Banqueiro“, o jornalista Rubens Valente narra como o juiz da Satiagraha, Fausto Martin De Sanctis, só soube que não iria atuar numa turma criminal do Tribunal Regional Federal da 3ª Região –como pretendia– durante a solenidade de posse.

A cerimônia foi conduzida pelo então presidente da Corte, desembargador Roberto Haddad.

O anúncio foi feito pelo deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), sempre presente nas solenidades do tribunal. “Tenho certeza que o novo desembargador Fausto Martin De Sanctis fará um excelente trabalho neste tribunal. Esperamos que, ao julgar causas previdenciárias, suas decisões sejam tão boas quanto foram em causas criminais”, disse o congressista, conforme texto divulgado na época pela assessoria de imprensa da Justiça Federal de São Paulo.

O fato está assim narrado no livro de Valente:

Em janeiro de 2011, De Sanctis tomou posse como desembargador, numa sessão curta e simples na sede do TRF, na avenida Paulista. A expectativa era que De Sanctis, dada sua experiência, no TRF fosse colocado na área que julga matérias penais. Por coincidência, naquele momento, abriu-se uma vaga na 5ª Turma, que analisa os casos criminais. Era um destino tão natural, que De Sanctis chegou a ser procurado por dois colegas, que buscavam dados sobre processos que seriam discutidos na próxima sessão da turma.

Na cerimônia de posse, contudo, De Sanctis sofreu um baque. Em discurso, o deputado federal Arnaldo Faria de Sá informou à plateia que o juiz iria atuar na área previdenciária, em substituição ao desembargador Antonio Cedenho. De Sanctis não sabia, ficou espantado.

No dia seguinte, o primeiro ofício que assinou foi designado à presidência do TRF: “Aparentemente, haveria algum equívoco, uma vez que me foi afiançado, categoricamente, pelos funcionários dessa egrégia presidência, de que não havia interessados na vaga disponível na 5ª Turma”. A presidência respondeu que um desembargador mais antigo, que pediu para ocupar o gabinete, tinha preferência, conforme previsto no regimento interno do tribunal.

Assim, o juiz que atuou nas principais investigações de crimes financeiros e lavagem de dinheiro da história recente do país, que determinou a prisão de dois banqueiros e de um megatraficante e que deu seguidas palestras sobre esses temas na Europa e nos Estados Unidos a partir de 2011 passou a decidir sobre recursos de pessoas que tiveram seu benefício recusado pelo INSS.

Até hoje, continua sem juiz titular a vara federal especializada em julgar crimes financeiros e lavagem de dinheiro da qual De Sanctis era o titular.

 

Comentários

  1. A impressao que da’ ao leigo e’ que o PJ resolveu dar um “sossega leao” num de seus juizes mais produtivos.
    Que mania dele de mandar prender banqueiros e despachar processos rapidamente ?
    Nao e’ assim que as coisas devem andar no Judiciario. Muito pelo contrario.
    Agora, julgando casos previdenciarios vamos ver se ele “aparece”…
    Enquanto isso as coisas so’ evoluem

  2. Faltou dar o crédito da frase título ao antigo técnico Gentil Cardoso, famoso mais pelas frases de efeito do que pelos resultados em campo. Assim como o governo peteba.

  3. Concordo com o Beto Silva acima. Tem que colocar um microfone na boca de quem decidiu no caso e pedir para se explicar.

  4. Eu não li o livro do jornalista Rubens Valente, mas pelo trecho acima transcrito já dá para perceber que se trata de uma análise completamente parcial. Ora, a atuação do hoje Desembargador Federal Fausto de Sanctis quando era juiz federal teve de “mega” apenas as ilegalidades. Prisões e condenações sem cabimento se enumeraram, posteriormente anuladas pelos Tribunal. O CNJ chegou a instaurar um procedimento disciplinar a pedido do Supremo Tribunal Federal, que acabou sendo arquivado sob o argumento de que havia sido promovido a desembargador. Acabou sendo convenientemente designado para uma turma previdenciária, e pouco tempo pois o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região anunciou que iria extinguir as varas criminais especializadas, que nos últimos anos só produziu pirotecnia e consumo de tempo e recursos do Judiciário. O combate ao crime é importante, mas o respeito aos valores constitucionais consagrados e às garantias dos acusados, universalmente aceitas, também são importantes.

    1. Olá! Caros Comentaristas! E, Fred! Olá! Marcos Alves Pintar., como vai, análise e comentário preciso, dentro da realidade. Parabéns! Também, como você; entendo que: O respeito aos valores constitucionais consagrados e às garantias dos acusados, universalmente aceitas, também são importantes, e não só, também, como principalmente. Vê com clareza o TEMA em questão. Muito Bom! Apesar de NÃO concordar com a decisão oriunda do legislativo e/ou quaisquer de seus pares no TEMA! Devia ser uma decisão intra-JUDICIÁRIO! Mas, há tanta bobagem acontecendo, é só mais uma! OPINIÃO!

  5. “Quid prodest?”
    Perguntaria o filósofo.
    Cabe à imprensa livre (hahahaha) colocar um microfone na frente do responsável por isso e perguntar-lhe o porquê de haver assim procedido.
    Aliás, será que o CNJ não pode atuar em uma situação assim?

  6. O representante do legislativo fez algo que se espera dele (pois eu não esperaria nada melhor vindo dele). O pior de tudo, no entanto, é o Judiciário parecer coadunado com a solicitação do digníssimo representante do legislativo. Esse é um forte indicador de que o Judiciário está com suas estruturas podres e tomado por um processo infeccioso grave. Acredito que o remédio para recuperar o Judiciário precisa ser amargo.

  7. E alguns ainda tem a ilusão de que o cidadão comum que presenciou um crime ou tem conhecimento de um ato criminoso, confiando nessa Justiça, deve se dispor a testemunhar em Juízo.

  8. ‘Quem desloca recebe. Quem pede tem a preferência”. Deus do Céu, quando seremos um País de gente decente? Interesses inconfessáveis dão a tônica nos três poderes! Sinceramente.

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