Jogo do Poder, a mais não poder
Para magistrado, juntar várias coisas na CPI da Petrobras em ano eleitoral é nada querer investigar.
Sob o título “De joelhos”, o artigo a seguir é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, que assina o texto como “magistrado e cidadão brasileiro”.
A recente descoberta de irregularidades na Petrobras, das quais a mais proeminente foi a desastrada aquisição duma refinaria norte-americana, resultante em prejuízo bilionário à Nação, não passa da ponta dum iceberg no imenso oceano de sucessivos desmandos do governo federal.
Pior: fato que tem como protagonista (personagem principal) a atual presidente da República e a indicar, sem titubeio, no mínimo, prova incontestável de má administração do dinheiro público. Fosse no setor privado, seria ela – por assim dizer, a gerente do Brasil – sumariamente demitida.
Realmente, qualquer um de nós (simples mortais), flagrados na apontada situação, seríamos obrigados a responder às consequências do ato falho, a redundar na perda de quantia suficiente, por exemplo, a suprir a muitas das carências das áreas de saúde e educação. Coisa séria, de se convir, num País de tamanhas necessidades.
Diante da realidade da constatação do fato, nada mais natural que a tomada de providências tendentes, nos termos da lei, à sua apuração. E assim o fizeram congressistas da oposição, mediante pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) específica das irregularidades da Petrobras (art. 58, caput e § 3º, da Constituição Federal).
E qual foi a reação de setores da situação, ligados à presidente? Buscar, num discurso evasivo e num contra-ataque aparentemente legal, sufocar a ação investigativa legítima. Aquele, ao argumento de que a questão encerra debate eminentemente político; este, pela proposta duma CPI ampliada, por nela inseridas questões outras, doutra ordem, como denúncias de cartel no metrô de São Paulo e irregularidades em obras do Porto de Suape e da refinaria de Abreu Lima, em Pernambuco.
Ora, quem tenha um mínimo de esclarecimento e saiba discernir o joio do trigo, vendo televisão, ouvindo rádio ou navegando pela internet, logo se aperceberá do “jogo da situação”, que, na mistura de coisas desconexas, qual cortina de fumaça, só objetiva sufocar a CPI da Petrobras, desviando o foco da investigação e favorecendo, uma vez mais, na triste história recente do Brasil, a blindagem dum presidente da “República do PT”.
É o velho e surrado ditado: “não sei de nada”. E, até aqui, fica por isso mesmo. A finalidade é só esta, clara como a luz do sol. Mas a clareza das situações, a transparência dos fatos, a olhos vistos, não parece ser o forte desse pessoal – nitidamente voltados às coisas veladas, ocultas nas dobras dos malfeitos destinados ao esquecimento.
Eles sabem que, antes de político, porque de interesse nacional, o debate é de ordem ético/moral. Ninguém duvida da nenhuma conexão entre as respectivas denúncias. Em sã consciência, nem o mais obtuso brasileiro disso duvidaria – mercê da só evidência dos fatos. A artimanha aí está, posta sob nossos olhos, certos, seus artífices, de que somos todos obnubilados mentais, carentes de inteligência e lucidez.
É o jogo do Poder, a mais não poder, para encobrir aquilo que não interessa e preservar o desequilíbrio de forças da Nação, vítima da ação pertinaz dos exploradores do povo. O que eles chamam de “jogo de ano eleitoral”, sabemos nós, não passa do legítimo jogo da verdade dos fatos, da transparência das situações, de interesse de todo o País.
Neste momento, juntar as coisas numa CPI, como bem se apercebeu um senador da República, é nada querer investigar, é nada querer fazer (digo eu: ou fingir que se quer fazer). E, de fato, em especial nos últimos anos, o Brasil tem visto sucessivos episódios de absoluta falta de vergonha, de desfaçatez sem limites, sem que algo se faça, com a punição exemplar de seus autores.
E é isto que se quer: que as coisas continuem encobertas, que os ganhos e perdas permaneçam ocultos, que o circo continue montado e que o pão da ilusão continue alimentando à população, para que nada mude, para que tudo continue convenientemente igual e para que o mal prevaleça sobre o bem.
Definitivamente, o Brasil está de joelhos! Uma população miserável, em grande parte (sob muitos aspectos), desgovernada por um projeto de Poder escancarado, com a finalidade clara de angariar vantagens de variada espécie, doa a quem doer.
Decididamente, a Nação está dominada, subjugada! Um povo carente, de esclarecimento inclusive, nas mãos dos comensais do Poder, abutres oportunistas à espera de despojos que lhes sacie a fome voraz.
A pessoas de bem, diante da evidência dos fatos surgidos envolvendo a Petrobras, não restaria atitude outra, que não apoiar investigação legítima tendente à apuração de irregularidades, com vista a provar, até, quiçá, a decência e retidão dos procedimentos do governo.
Porém, em razão dos precedentes, seria demasiada ingenuidade supor ou esperar, de quem tem pouco ou quase nada a dar, atitude condizente à descoberta duma verdade capaz de ser muito inconveniente, de forma a causar estragos na estratégia propositalmente montada para ludibriar.
Assim, só nos resta esperar que as forças decentes do País saiam de sua inércia, ganhem o coração do povo e, de novo, façam a Nação respirar. Só resta saber, pois, se o gigante Brasil sairá da momentânea condição servil e assumirá seu grandioso destino, não mais curvado a interesses outros, exceto aos do bem comum.