O juiz e a imagem do super-herói
Trechos do discurso proferido nesta segunda-feira (5/5) pelo Juiz de Direito Bruno Vinícius Da Rós Bodart, orador da turma de candidatos aprovados no XLV Concurso de Ingresso na Magistratura de Carreira do Estado do Rio de Janeiro:
Hoje celebramos um rito de passagem. Vinte e seis cidadãos e cidadãs tomam um caminho sem volta, levando na bagagem suas experiências, ideias e emoções, mas sabendo que, de agora em diante, suas vidas serão permanentemente transformadas. Ingressamos, neste momento, na vida pública, um rigoroso sacerdócio a que se submetem aqueles que desejam oferecer tudo o que têm de melhor para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
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Nossos familiares, de sangue e de afeto, são testemunhas de nossos sacrifícios e de nossas abdicações diárias para cruzar uma linha de chegada que eles pensavam que estaríamos cruzando agora. Mas, sinto alertar, essa linha nunca irá chegar. Este é o início de uma trajetória ainda mais sacrificante, porém muito gratificante.
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O juiz pode até não ser um super-herói, mas dele se esperam certos atributos singulares, próprios daqueles que salvam vidas, reúnem famílias e combatem o crime.
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Já que estamos falando em super-heróis, vem a calhar uma bonita frase utilizada no filme do Homem-Aranha: “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.
Embora extraída do mundo fantasioso do cinema, a frase ilustra com precisão a tarefa que nos espera. Depende do juiz uma justiça que não tarda e não falha, ao mesmo tempo em que o jurisdicionado merece e espera de nós muita prudência e serenidade no ato de decidir. Se hoje realizamos um sonho, sabemos bem que amanhã são os sonhos de muitas outras pessoas que dependerão de nós para serem realizados.
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O juiz não deve se curvar, por mais poderosas que sejam as forças contrárias, e jamais deve se desviar do caminho retilíneo, via única de acesso à verdadeira justiça. Muito menos deve o juiz temer as más línguas e as críticas, porque o tempo, com a sua incomparável propriedade restauradora, será encarregado de mostrar as nossas virtudes e fazer justiça por nós, tal como fizemos pelos outros.
Nas bem inspiradas palavras do eminente Ministro Luiz Fux, com quem tanto aprendi, “em um país onde os juízes temem, as sentenças valerão tanto quanto valem esses homens”.
Neste púlpito, sou porta-voz do compromisso inarredável, meu e de meus colegas, com a justiça, e somente com ela, em cada caso que julgarmos.