Nem submisso nem pessoa de trato fácil

Frederico Vasconcelos

Os vários Joaquins

Para o bem ou para o mal, dependendo de quem interpreta os fatos, deve-se a Joaquim Barbosa a abertura maior do Supremo Tribunal Federal à sociedade, expondo as fogueiras de vaidades, desentendimentos e outras peças inflamáveis.

A decisão de quebrar o sigilo da ação penal do mensalão permitiu ao cidadão comum conhecer um pouco do funcionamento desse Poder tão fechado. Sem a transmissão direta pela TV Justiça, talvez a ação penal não tivesse o mesmo desfecho.

Não deixa de ser uma coincidência curiosa o fato de Barbosa anunciar que deixará a Corte no momento em que o STF decide que os crimes comuns atribuídos a parlamentares, ministros e outras autoridades passarão a ser julgados pelas Turmas do STF. Sem maior publicidade.

Em agosto de 2008, em entrevista a este repórter, publicada na Folha, Barbosa disse que se enganaram os que pensavam que a Corte iria ter um “negro submisso”.

“Engano pensar que sou uma pessoa que tem dificuldade de relacionamento, uma pessoa difícil. Eu sou uma pessoa altiva, independente e que diz tudo que quer”, afirmou.

Definitivamente, Barbosa não é uma pessoa de temperamento fácil. Deve ter dito tudo que quis, pois não foram poucos os episódios lamentáveis de destempero com jornalistas, advogados e magistrados.

Para o bem ou para o mal, independentemente dos motivos que levaram Barbosa a antecipar a aposentadoria, o julgamento do mensalão será uma referência associada à sua figura mercurial.

Ele se empenhou, apesar dos problemas de saúde, para que o processo fosse concluído. Mas o desfecho foi resultado de um julgamento colegiado.

Sob permanente pressão, nas várias tentativas de impedimento ou de suspeição do relator, Joaquim Barbosa sempre submeteu suas decisões ao plenário.

Talvez simplesmente pretenda ficar distante dos novos tempos, quando o STF e o CNJ estarão “sob nova direção”.

A conferir.