Clésio, Valério e o mensalão tucano

Frederico Vasconcelos

Clésio Andrade e Marcos Valério

Renúncia de senador mineiro traz novamente à tona as operações suspeitas com o operador do mensalão do PT.

Sob o título “Réu do mensalão tucano deixa Senado, e caso pode sair do STF”, a Folha publica reportagem nesta quarta-feira (16), revelando que o senador Clésio Andrade (PMDB-MG) renunciou ao seu mandato de senador, que terminaria em dezembro deste ano.

O senador alegou problemas de saúde.

“A renúncia abre caminho para que o processo do mensalão de Minas e os demais inquéritos contra o congressista sejam encaminhados à 1ª instância da Justiça, em seu Estado”, diz o jornal.

Em 4/11/2006, o editor deste blog publicou artigo na Folha, sob o título “Peneiras e tapetes“. Tratava das minas tucanas que foram desativadas durante a campanha eleitoral daquele ano.

O título era uma referência à carta em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que o PSDB tentou “tapar o sol com a peneira” no caso do senador Eduardo Azeredo, o que remetia ao esquema de financiamento eleitoral de tucanos e aliados em 1998, aproximando o episódio às origens do mensalão do PT.

O título também aludia às várias tentativas de colocar debaixo do tapete associações incômodas.

No artigo, é mencionado que o senador Clésio Andrade, que foi vice-governador de Aécio Neves, também foi sócio de Marcos Valério.

Ele era alvo de investigação sigilosa na Justiça Federal por suspeita de lavagem de dinheiro em operações no Banco Rural -em dose menor, mas semelhantes às do valerioduto. O Coaf chegou a citar “operações não usuais” entre a agência SMP&B, Clésio e Azeredo.

O Ministério Público Federal sustentou que a frustrada campanha à reeleição de Azeredo foi alimentada com recursos da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), Comig (Companhia Mineradora de Minas Gerais) e Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais), captados a título de promoção de um evento esportivo, o “Enduro Internacional da Independência”.

Segundo a acusação, a SMP&B, agência de Valério (à época sócio de Clésio Andrade) levantou empréstimos junto ao Banco Rural para aplicar na campanha de Azeredo, e essas dívidas teriam sido liquidadas com recursos públicos.

Reportagem publicada na Folha em 26/11/2007, também de autoria do editor deste Blog, revelou que Clésio Andrade era alvo de investigação em Minas Gerais para apurar as suspeitas de “promiscuidade” nos negócios de suas com empresas com o Banco Rural, que envolveriam empréstimos fraudulentos e lavagem de dinheiro.

“Ao lado dos publicitários Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, da SMP&B, ele é apontado na denúncia do procurador-geral da República como um dos ‘profissionais do ramo de lavagem'”.

A peça acusatória fazia referência a “esquemas criminosos”, para desviar recursos públicos para a campanha de reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB) e de seu vice, Clésio Andrade.

Clésio era acusado de garantir empréstimos fraudulentos tomados por Marcos Valério e seus sócios no Banco Rural e de receber, pelo menos, R$ 325 mil a título de contrapartida.

Clésio Andrade distribuiu nota, na ocasião, afirmando que na época da campanha eleitoral “não era membro do governo, razão pela qual não participou de qualquer decisão de governo, especialmente no que tange a ordenamento de despesas do Estado ou de empresas estatais”.

Afirmou ainda que “em maio de 1998 deixou a sociedade da qual fazia parte na SMP&B, bem antes, portanto, do início das eleições daquele ano”.