Templo de Salomão e poderosos de plantão
Sob o título “A política dos homens e a ausência de Deus”, o artigo a seguir é de autoria do desembargador Edison Vicentini Barroso, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele assina o texto como “cristão, magistrado e cidadão brasileiro”.
O “Templo de Salomão”, da Igreja Universal do Reino de Deus, foi inaugurado. E o foi, na ostentação da riqueza do mundo – à distância de Deus.
Num monumento de cerca de R$700.000.000,00 (setecentos milhões de reais), edificado pelo dinheiro dos chamados “fiéis”, fizeram-se presentes os poderosos desta terra, desde a presidente da República a representantes dos demais Poderes e do empresariado.
A força política ali esteve, em peso, sob a capa da legítima religiosidade. A pompa e o luxo erigiram seu deus, à distância dos verdadeiros ensinamentos de Jesus de Nazaré, humilde carpinteiro conhecido como o Cristo de Deus.
Por trás da presença dos poderosos, a intenção real – quão dissimulada – de tirar proveito político da situação. Por trás dos discursos dos representantes da Universal, a desfaçatez de quem se serve da religião para tirar esse tipo de proveito – e muito mais.
A história mostra, por vídeo levado a público pela Rede Globo de Televisão, do tamanho da enganação de Edir Macedo e seus “pastores”. Então, ensinando-os a ludibriar a boa-fé da população. Porém, ignorante ao extremo, esta não acreditou no que viu, na evidência do fato. E o gigantesco esquema, criado para enriquecer e tornar poderosos a seus agentes, sob a aparência da licitude, foi crescendo… geometricamente!
O aparato, a riqueza excessiva de detalhes, dá conta da aberração da obra, a contradizer os ensinamentos de Jesus, hauridos do verdadeiro Deus, mais espirituais do que qualquer outra coisa e a mostrarem, sem equívoco, que o caminho para a verdadeira Vida está na atitude simples de quem se porta com retidão.
Sim, foi assim que o Mestre exemplificou. E fez de seus ensinamentos, na prática do dia-a-dia, o verdadeiro templo (que é o de Deus), a ser edificado não fora do homem, mas no fundo de seu coração. Jesus pontificava pelas atitudes e dizia: “conhecereis da árvore por seus frutos”.
Foi além, na afirmação de que “cada um receberá segundo suas obras”. Se estas forem boas, a colheita também o será. Do contrário, não. Desde Jesus, daquilo que nos legou, tão mal e convenientemente interpretado por alguns, para proveito próprio e à distância da realidade de Seus ensinamentos, ninguém mais pode desculpar-se sob alegação de que desconhecia a verdade.
As piores pessoas são as que se servem do sagrado, na busca de interesses outros, sem o pudor, sequer, de usarem e abusarem da boa-fé dum povo inda despreparado espiritualmente. E desse pecado aquelas não escaparão, mais cedo ou mais tarde, queiram ou não.
De igual forma, quem se aproveite da situação, quais os poderosos de plantão – dos mais variados segmentos sociais. Diz-nos Jesus: “de que adianta ao homem ganhar o mundo e perder sua alma?”. O Mestre não nos legou templos suntuosos, mas a excelência das boas obras, a magnificência do amor ao próximo, seja quem for.
A igreja do Cristo está em cada um de nós, e não no aparato de templos de pedra, ricamente construídos – feitos para exibição das glórias do mundo e, em regra, distantes da glória do amor de Deus.
Mais importante que ter é ser. De nada vale ter um templo exterior, regiamente edificado, sem que se o erija no recesso do coração com a marca inapagável de Jesus Cristo. Ser cristão é ser honrado, autêntico, sincero, leal. Para ser cristão, não basta comparecer fisicamente a templos de pedra, que o tempo há de pôr abaixo.
O Mestre da verdade, a personificação do caminho de vida pelo qual se chega realmente a Deus, também nos disse: “um cego conduzindo a outro, ambos cairão no precipício”. Quantos são, hoje mais que nunca, os falsos profetas e seus seguidores. Quais são suas faces, que não as daqueles que se atribuem a primazia de falar de Deus e por Ele, perante os bilhões de almas desejosas do verdadeiro aprendizado.
É tempo de os templos de pedra cederem lugar ao advento do Cristo interior, à vinda do homem renovado pelos princípios inquebrantáveis do Evangelho redentor. Pois, como nos disse Jesus, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. E a verdade está dentro e não fora do homem, embora este persista em procurá-la nos monumentos do mundo.
Se os poderosos da Terra se fiassem, verdadeiramente, nas obras do Cristo, não precisariam comparecer a inaugurações de obras mundanas, feitas para ostentação dos homens, por vinculadas ao orgulho, à vaidade e aos interesses mesquinhos e subalternos, ínsitos à condição de pouco progresso daqueles.
Decididamente, a política dos homens não bate com a de Deus, pois condizente a valores perecíveis, quais os templos de pedra edificados na história da humanidade, todos, indistintamente, derruídos pela ação do tempo.
Definitivamente, a Deus se encontra no templo imortal dum coração que aprendeu a amar e dar de si sempre o melhor. Fiemo-nos, pois, no único guia seguro de nossas vidas, Jesus de Nazaré, cuja política dispensa adornos e não faz qualquer distinção entre as criaturas.
Baseemo-nos, unicamente, nos seus exemplos de vida – que nunca mantiveram compromisso com os bens materiais, que sempre passaram ao largo das requisições de oferendas, dos dízimos impostos pelas igrejas dos homens, tão distantes da verdadeira igreja de Deus.
Que a obra exterior, ora inaugurada, por tudo quanto evangelicamente não simboliza, sirva de exemplo daquilo que se não precisa fazer para, simplesmente, falar com Deus… no interior do nosso coração – pois é lá que Ele, o Pai, se encontra. Encontremo-nos, pois, encontrando-O depois.