Ação à italiana sem cheiro de pizza

Frederico Vasconcelos

Modesto CarvalhosaA seguir, trechos da entrevista concedida pelo advogado Modesto Carvalhosa aos jornalistas Clayton Netz e Hugo Cilo, da revista “IstoÉ Dinheiro”, sobre a Operação Lava Jato.

Carvalhosa participou de comissão de investigação criada pelo então presidente Itamar Franco. Foi o coordenador da obra esgotada “O Livro Negro da Corrupção” [Editora Paz & Terra] sobre casos emblemáticos de malversação de dinheiro público, como o escândalo envolvendo PC Farias e o episódio dos “Anões do Orçamento”.

 

 A Operação Lava Jato está para o Brasil assim como a Operação Mãos Limpas, que praticamente acabou com a influência da máfia, esteve para a Itália. É o mais importante episódio de julgamento de corrupção da história recente.

(…)

Não acredito [que terminará em pizza]. Um fator importantíssimo nesse caso é a Lei Anticorrupção, que começou a vigorar em janeiro deste ano. Dois pontos se destacam: uma Polícia Federal muito ativa e uma Justiça Federal muito autônoma. Essa lei que pune as empresas, não somente as pessoas físicas, ajuda muito.

(..)

Agora é para valer, assim como o julgamento do mensalão foi para valer. Agora não tem conversa, tem o Ministério Público Federal, tem o Poder Judiciário, tem a Polícia Federal. Mas as empreiteiras continuam tentando confundir a opinião pública (…), dizendo que a lei não está regulamentada, que os fatos ocorreram antes da aprovação da lei etc. Tudo isso é balela.

(…)

Não tenho a menor dúvida de que sempre houve corrupção em outros governos. Nesse caso, estão datando a corrupção por causa da nomeação política na Petrobras. Também não acho que foi o PT que instaurou a corrupção na Petrobras, mas, como o partido está no poder, vai sofrer mais. Além disso, como o PT sempre foi um partido muito moralista, sofre pressão agora.

(…)

[A delação premiada]  É o único caminho para desbaratar a corrupção no País. Porque o sujeito, ao saber que terá de cumprir 20 anos, percebe que a única opção que tem é denunciar os outros, que são os políticos. A delação premiada é a solução, como foi a operação Mãos Limpas na Itália. Nos Estados Unidos, a delação premiada conseguiu acabar com a máfia.

(…)

Os dirigentes das empreiteiras, se não quiserem participar da delação premiada, devem ir para a prisão. E devem ser aplicadas multas para as empresas.