Porque sabia com quem estava falando…
O episódio a seguir é verdadeiro e foi narrado pela juíza Andrea Pachá, do Rio de Janeiro, no Facebook como exemplo das distorções e abusos provocados pela generalização. É reproduzido neste espaço com o consentimento dela, que omitiu o nome da magistrada que viveu a experiência inusitada.
Está certo. Juiz não é Deus. O Botafogo rebaixado não me deixa mentir. Está certo, também, que os recentes episódios envolvendo juízes despertaram uma fúria contra a magistratura, como se todos os juízes vivessem por aí dando carteiradas e tentando obter vantagens como hóspedes vitalícios do erário público.
Não é bom quando acontece. Concordo que não deveria acontecer nunca. Compreendo, no entanto, o quanto as generalizações são danosas, especialmente porque injustas com a grande maioria dos profissionais. Ao menos os que comigo convivem e dos quais me orgulho.
O sentimento de ódio, multiplicado incessantemente, leva a episódios inusitados, como o que narro, a seguir:
Uma juíza liga para uma editora, na tentativa de cancelar a assinatura. Apesar do pagamento regular, o serviço não era prestado devidamente.
O atendente pergunta todos os dados pessoais, números de documentos, confirmação de endereços, telefones e, inclusive, a profissão. Tenta, sem sucesso e inúmeras vezes, fazê-la desistir do cancelamento.
Informa, então, que, em 3 dias úteis, entrariam em contato com ela para “estar efetuando” o cancelamento.
A juíza respondeu que eles eram obrigados a cancelar na hora e, diante da recusa, ela estava dando por cancelado o contrato.
Veio, então, a reação imediata do atendente:
– Não é porque a senhora é juíza que vai ter tratamento diferente, não! Para mim, a senhora é só uma consumidora!
Tranquilamente, a juíza, que apenas havia se identificado como tal, diante das perguntas do início da ligação, respondeu:
– E porque eu sou juíza, a lei não se aplica a mim?!
Não precisa ser Deus, mas seria um milagre se todos os “só consumidores” fossem divinamente respeitados.