Suspeitas de acumpliciamento

Frederico Vasconcelos

Sob o título “Revelações sintomáticas!”, o artigo a seguir é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que assina o texto como “magistrado e cidadão brasileiro”.

 

Venina Velosa, ex-gerente da área de abastecimento da Petrobras, confirmou ao ‘Fantástico’, da Rede Globo, haver denunciado a superiores (desde 2008) – dentre os quais, Sérgio Gabrielli e Graça Foster – irregularidades na empresa, tais como pagamento de serviços não prestados, contratos aparentemente superfaturados, negociações feitas com solicitação de comissões para as pessoas envolvidas e uma série de problemas que feriam o código de ética e os procedimentos da estatal.

Esclareceu haver informado a todas as pessoas que achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que se instalava na empresa – do que documentou.

Que o digam os e-mails existentes.

Diante das declarações, Graça Foster – atual presidente da Petrobras –, para não fugir à regra de conduta do PT (Partido dos Trabalhadores) e associados, “arrumou” a desculpa de que se tratou de alertas genéricos! Chegou a declarar que não sabia o que Venina queria dizer com ‘esquartejamento de projeto’ e ‘licitação ineficiente’.

Ora, experiente no ramo (é presidente da Petrobras!), disto não poderia pretextar, pela evidência, decorrente do alerta, de que algo de errado existia na Diretoria de Abastecimento. Seria natural, pois, levasse em conta àqueles muitos alertas – fosse qual fosse a intenção de Venina.

De fato, até para o homem do povo, esquartejar um projeto encerra a ideia de se lho desfigurar, deturpar. De igual forma e com muito maior razão, inequívoco o entendimento da expressão ‘licitação ineficiente’ – no sentido de inábil à produção de seu efeito. De toda forma, iniludivelmente, deu-se conta de que coisas erradas aconteciam na Petrobras.

Todavia, nada foi feito! Nenhuma a investigação, ausente qualquer providência tendente a apurar fatos – sobretudo, denunciados por gerente executiva da empresa, ligada a Paulo Roberto Costa; então, diretor da área de Abastecimento.

Mais que estranha, circunstancialmente, a omissão beira a suspeita de acumpliciamento. Notadamente, pelos fatos que se seguiram, correlatos ao confessado envolvimento de Paulo Roberto em esquema gigantesco de desvio de verbas – só recentemente revelado.

Vez mais, apresenta-se a má estratégia – mas que parece funcionar neste País – de tentar desacreditar a fonte da informação, inda à vista de documentos que comprovem o contrário. A resposta de Graça Foster, além de risível, indica intenção de fugir ao centro da questão: de que se haveria de agir para apurar do que devido, do verdadeiramente acontecido.

Seu silêncio, sua falta de ação, agora aliado àquela resposta inconsistente, porque frágil e ruim, bem como às revelações atuais do descalabro da empresa, dão a conotação da existência de algo muito mais podre daquilo que se tem noticiado.

Mais que intuitivo, lógica e racional a conclusão de que o envolvimento na banda podre da Petrobras se deu de cima para baixo – e não de baixo para cima! Cabe aos agentes de autoridade, pois, no cumprimento de sua tarefa institucional, investigarem e darem conta da realidade dos fatos, em sua integral expressão – sem poupar a ninguém!

Chama atenção a dita disposição de Foster em se ver também investigada. Ora, fosse ela sincera, seria a primeira a se afastar do cargo e favorecer investigação o mais imparcial possível.

Também, não passa despercebida a resistência da presidente da República em trocar a diretoria da Petrobras – apesar dos fatos gritantes! Pergunta-se: qual a razão?
Será porque, efetivamente, como por ela dito, inexistem provas? Ou por motivos outros, inconfessáveis? É questão a ser sondada, considerada.

Quando um fato se impõe ao governante, por mais forte ou influente seja este, não se pode “dar murro em ponta de faca”. Afinal, contra fato não há argumento! Pior: no caso, a par da questão política existe a econômica. Realmente, como está, pelo enfraquecimento duma diretoria que vem sendo fundadamente questionada, a Companhia está sofrendo financeiramente, com inegável perda de grau de investimento, etc.

Nesse contexto, ou a presidente toma a única atitude circunstancialmente possível, adequada à realidade dos fatos, substituindo à direção da Petrobras a bem de sua saúde financeira e da isenta apuração do sucedido, ou se compromete inda mais com o aprofundamento da crise pela qual passa, expondo-se, e a seu governo, ao desgaste de ver sua amiga rodar, cedo ou tarde, no vórtice do furacão da gigantesca corrupção que arrasa o Brasil e o põe de joelhos!