Juízes e o objeto de desejo
Alguma coisa parece fora do lugar quando um milionário expõe um automóvel de luxo como peça de decoração na sala de visitas de sua residência. Mas a extravagância, no caso, é questão de foro íntimo na esfera privada.
O mesmo não ocorre quando um magistrado estaciona na garagem de seu prédio o Porsche Cayenne do empresário Eike Batista, veículo apreendido de um réu em processo sob sua responsabilidade.
Segundo o juiz Flávio Roberto de Souza, do Rio de Janeiro, essa seria uma “situação normal”, pois “o carro ficou guardado em local seguro, longe de ser suscetível a qualquer dano”.
O maior dano já foi causado. A ex-corregedora Eliana Calmon diz que “a conduta do juiz é absurda e desmoraliza o Poder Judiciário”, como registrou o jornalista Bernardo Mello Franco nesta quarta-feira (25) em sua coluna na Folha.
Nessa seara, todo cuidado na direção é pouco.
Advogados e promotores, por exemplo, estranharam quando o Tribunal de Justiça de São Paulo colocou à disposição do decano da Corte um Audi repassado ao tribunal paulista pela Receita Federal. Ou quando a presidência do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, mantinha um Volvo S/80 –confiscado pela Receita e entregue ao tribunal, mesmo sabendo-se que o presidente já dispunha de um Toyota Corolla.