Desafios do candidato Janot

Frederico Vasconcelos

Janot em debate na ANPR

Em 2013, na campanha para a sucessão de Roberto Gurgel na Procuradoria Geral da República, o então candidato Rodrigo Janot tirou licença por um mês, sem onerar os cofres públicos. Entendeu que a dedicação à campanha prejudicava a atividade de procurador.

Em 2015, difícil imaginar que Janot repetisse essa opção, em pleno desenrolar da Operação Lava Jato.

Como era previsível, o calendário comum das investigações e do processo sucessório confunde a interpretação dos fatos e realimenta alguns mitos.

Alguns entenderam que o adiamento do processo eleitoral seria um fator de desequilíbrio na campanha. Janot permaneceria com a caneta na mão, e o avanço da Lava Jato reforçaria o apoio interno ao PGR; os concorrentes teriam que fazer campanha nas férias,  período desfavorável às articulações na busca de votos.

Os fatos, contudo, mostram que os novos passos da operação anticorrupção têm gerado uma maior resistência no Legislativo à recondução de Janot.

Em 2013, Janot inovou ao profissionalizar sua campanha eleitoral, contratando uma assessoria externa de imprensa e relações públicas privada.

Consultado na ocasião, Janot disse que “a relação do Ministério Público com a imprensa é delicada, exige técnica, transparência e diálogo qualificado. Por isso busquei ajuda de profissionais de comunicação para tornar essa relação a mais transparente e tranquila possível, seguindo os padrões de relacionamento entre fontes e jornalistas. Por isso, contratei o trabalho porque considero obrigatório que essa relação seja profissionalizada”.

Em 2015, a assessoria de imprensa acompanha a gestão de Janot na PGR.

O primeiro desafio que se impõe ao PGR é não permitir que as manifestações institucionais sejam confundidas com o discurso do candidato.

Lida isoladamente, a nota pública que Janot distribuiu nesta segunda-feira (20) –ao sustentar que o PGR, “no exercício de suas atribuições, investiga fatos, jamais instituições”, e que será sempre de respeito a relação do “Ministério Público Brasileiro com os Poderes da República”– é um texto que passaria longe do processo eleitoral.

O último parágrafo, contudo, sugere que a nota foi provocada por uma reportagem publicada no mesmo dia no jornal “O Estado de S.Paulo“, sob o título “Resistência a Janot no Senado faz MPF cogitar plano B”.

O texto do jornal revela que “procuradores ligados a Janot começaram a traçar, em conversas reservadas, um plano B com o objetivo final de proteger a Lava Jato, caso o atual procurador-geral seja rejeitado pela Casa”.

O mito realimentado é o de que a Lava Jato depende exclusivamente da presença de Janot na cúpula da PGR, embora o senso comum recomende que não seria conveniente fazer alterações no comando da equipe. Os dois procuradores-gerais que atuaram na ação penal do mensalão –Antonio Fernando e Roberto Gurgel–, por exemplo, não eram especialistas em Direito Penal. Janot é especialista em direito comercial, meio ambiente e direito do consumidor.

Essa preocupação com alternativas a eventual veto do Senado aparentemente seria precipitada. A campanha continua em curso, Janot permanece como o candidato mais cotado da lista tríplice e supõe-se que a ele não interessaria antecipar o debate, embora algumas afirmações e avaliações da reportagem sejam atribuídas a aliados do procurador-geral.

O último parágrafo da nota pública do PGR Janot parece dirigido ao último parágrafo da reportagem, que reproduz declaração atribuída a “um subprocurador, amigo de Janot há mais de 20 anos”.

Eis o que diz o amigo na reportagem [grifo nosso]: “(Ele) colocou o Senado todo de joelhos, é o nosso procurador por mais anos”.

Eis o que diz a nota publicada no site da PGR [grifo nosso]: “No contexto de um regime democrático, o Ministério Público sempre buscou o diálogo permanente com os Poderes constituídos no propósito de fortalecer a República brasileira, o que passa necessariamente – ao contrário das declarações desairosas veiculadas em matéria jornalística – pelo funcionamento de um Senado Federal altivo e de pé”.