Vinte anos de propinas impunes
O advogado Tales Castelo Branco, ex-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo, resgata a denúncia feita em 1997 pelo jornalista Paulo Francis, à época correspondente da TV-Globo em Nova York.
Francis afirmou, sem provas, que havia corrupção na Petrobras e remessas ilegais de dinheiro para a Suíça.
“Paulo Francis estava certo, mesmo não tendo provas concretas”, diz o advogado, em artigo publicado no “Consultor Jurídico“, sob o título “Avestruzes da República esconderam-se do ‘petrolão’ há mais de 20 anos”.
“Era o terceiro ano do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. O presidente, suponho que por simples descaso, não tomou qualquer providência para investigar a veracidade ou não da denúncia”, afirma o advogado.
“Como os diretores [da estatal] queriam atingir o jornalista que não apresentava provas concretas, mas apenas a denúncia para ser apurada, decidiram, maldosamente, que a ação fosse proposta em Nova York, onde as indenizações morais são costumeiramente bilionárias. Daí resultou decisão judicial obrigando Paulo Francis a pagar o valor de US$ 100 milhões.”
“Sem qualquer possibilidade financeira de pagar soma tão elevada, Paulo Francis entrou em fortíssima depressão psicológica. Foi perdendo o dom da fala, que tanto impressionava seus telespectadores, e, aos poucos, foi enfraquecendo até morrer”, registra Castelo Branco.
“Agora, quase 20 anos depois da morte do jornalista, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, em depoimento à operação ‘lava jato’, em delação premiada, afirmou que começou a cobrar propina das empresas que buscavam firmar contratos com a estatal desde o ano de 1997”, afirma o advogado.