Arquivos ainda secretos da ditadura

Frederico Vasconcelos

“Os militares sempre souberam mais do que revelaram”, diz jornalista que pesquisou microfilmes do Cenimar.

Livro do Lucas Figueiredo“Passadas três décadas do fim do regime militar, o Estado brasileiro ainda não abriu os arquivos secretos que poderiam elucidar o destino dos 243 desaparecidos políticos e a cadeia de comando responsável pelas 434 vítimas fatais da ditadura civil-militar.”

A conclusão é do jornalista investigativo e escritor Lucas Figueiredo, que lançará nesta segunda-feira (5) em São Paulo o livro “Lugar Nenhum — Militares e civis na ocultação de documentos da ditadura“. Editado pela “Companhia das Letras”, a obra inaugura a coleção “Arquivos da Repressão no Brasil”. (*)

O jornalista teve acesso a um conjunto de microfilmes do Cenimar (Centro de Informações da Marinha), considerado o mais temido e eficiente dos órgãos de repressão. O material foi examinado por peritos da Biblioteca Nacional, que atestaram sua autenticidade e importância. “Os documentos não deixam dúvidas: os militares sempre souberam mais do que revelaram”, diz o autor.

Apesar das tentativas feitas pelo Ministério Público e pela Justiça para ter acesso aos arquivos do Exército, Marinha e Aeronáutica, “apenas acervos na sua maioria desimportantes foram abertos pelas Forças Armadas”, diz.

Na reportagem que escreveu na Folha sobre o livro de Figueiredo, o jornalista Oscar Pilagallo identificou a “costura invisível” de um “pacto de silêncio entre os militares e os governos civis do período da redemocratização”, o que tem impedido que os arquivos da repressão venham à luz.

Lucas Figueiredo coordenou um reduzido grupo de jornalistas –apelidado de “equipe ninja“– que trabalhou para a Comissão Nacional da Verdade, mantendo as informações colhidas sob absoluto segredo. Como a CNV não utilizou no seu relatório final nenhuma informação da pesquisa sobre a ocultação dos arquivos da ditadura, o jornalista julgou ser necessário escrever o livro, revela Pilagallo.

Lucas Figueiredo é um premiado jornalista –autor, entre outros, dos livros-reportagem “Morcegos negros” e “Ministério do Silêncio“. Atuou como pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e consultor da Unesco.

Ele entende que “a cumplicidade de militares e civis na ocultação dos arquivos secretos da ditadura é um entrave para a conclusão do processo de redemocratização”.

O título do livro –“Lugar Nenhum“– está explicado na conclusão do autor: “Em 1985, o Brasil deixou para trás a ditadura. Três décadas depois, ainda não alcançou a plena democracia. Entre um e outro regime, o país está em algum lugar. Ou em lugar nenhum. Como os papéis e microfilmes da repressão. Como os desaparecidos políticos”.

Antes da sessão de autógrafos em São Paulo, haverá debate entre o autor, a professora da UFMG Heloisa Starling, coordenadora da coleção, e a jornalista Laura Capriglione. Na quarta-feira, o livro será lançado em Belo Horizonte, quando o autor debaterá o tema com o jornalista João Paulo Cunha.

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(*) Lançamentos

EM SÃO PAULO

Data: 5/10
Horário: 19h30
Local: Livraria da Vila (Higienópolis)

EM BELO HORIZONTE

Data: 7/10
Horário:18h30
Local: Memorial Minas Gerais Vale