Arquivos ainda secretos da ditadura
“Os militares sempre souberam mais do que revelaram”, diz jornalista que pesquisou microfilmes do Cenimar.
“Passadas três décadas do fim do regime militar, o Estado brasileiro ainda não abriu os arquivos secretos que poderiam elucidar o destino dos 243 desaparecidos políticos e a cadeia de comando responsável pelas 434 vítimas fatais da ditadura civil-militar.”
A conclusão é do jornalista investigativo e escritor Lucas Figueiredo, que lançará nesta segunda-feira (5) em São Paulo o livro “Lugar Nenhum — Militares e civis na ocultação de documentos da ditadura“. Editado pela “Companhia das Letras”, a obra inaugura a coleção “Arquivos da Repressão no Brasil”. (*)
O jornalista teve acesso a um conjunto de microfilmes do Cenimar (Centro de Informações da Marinha), considerado o mais temido e eficiente dos órgãos de repressão. O material foi examinado por peritos da Biblioteca Nacional, que atestaram sua autenticidade e importância. “Os documentos não deixam dúvidas: os militares sempre souberam mais do que revelaram”, diz o autor.
Apesar das tentativas feitas pelo Ministério Público e pela Justiça para ter acesso aos arquivos do Exército, Marinha e Aeronáutica, “apenas acervos na sua maioria desimportantes foram abertos pelas Forças Armadas”, diz.
Na reportagem que escreveu na Folha sobre o livro de Figueiredo, o jornalista Oscar Pilagallo identificou a “costura invisível” de um “pacto de silêncio entre os militares e os governos civis do período da redemocratização”, o que tem impedido que os arquivos da repressão venham à luz.
Lucas Figueiredo coordenou um reduzido grupo de jornalistas –apelidado de “equipe ninja“– que trabalhou para a Comissão Nacional da Verdade, mantendo as informações colhidas sob absoluto segredo. Como a CNV não utilizou no seu relatório final nenhuma informação da pesquisa sobre a ocultação dos arquivos da ditadura, o jornalista julgou ser necessário escrever o livro, revela Pilagallo.
Lucas Figueiredo é um premiado jornalista –autor, entre outros, dos livros-reportagem “Morcegos negros” e “Ministério do Silêncio“. Atuou como pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e consultor da Unesco.
Ele entende que “a cumplicidade de militares e civis na ocultação dos arquivos secretos da ditadura é um entrave para a conclusão do processo de redemocratização”.
O título do livro –“Lugar Nenhum“– está explicado na conclusão do autor: “Em 1985, o Brasil deixou para trás a ditadura. Três décadas depois, ainda não alcançou a plena democracia. Entre um e outro regime, o país está em algum lugar. Ou em lugar nenhum. Como os papéis e microfilmes da repressão. Como os desaparecidos políticos”.
Antes da sessão de autógrafos em São Paulo, haverá debate entre o autor, a professora da UFMG Heloisa Starling, coordenadora da coleção, e a jornalista Laura Capriglione. Na quarta-feira, o livro será lançado em Belo Horizonte, quando o autor debaterá o tema com o jornalista João Paulo Cunha.
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(*) Lançamentos
EM SÃO PAULO
Data: 5/10
Horário: 19h30
Local: Livraria da Vila (Higienópolis)
EM BELO HORIZONTE