O corte de recursos da Polícia Federal
Sob o título “A tesoura da corrupção!”, o artigo a seguir é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
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A inquietação da Polícia Federal (PF) tem razão de ser. Sem nenhum
pudor, o governo Dilma Rousseff lhe cortou do orçamento R$ 133 milhões
de reais, com impacto direto nas operações contra a corrupção. Não sem
motivo, delegados dizem acreditar que a instituição foi alvo de retaliação
decorrente da atuação na Operação Lava Jato.
E se o fez, sob o argumento de recessão da economia – a exigir sacrifício
geral.
Muito cômodo, tratando-se de um governo que causou essa situação,
‘pedalando’ a mais não poder – também, com distribuição desautorizada de
vultosa quantia a países de seu eixo ideológico –, e visceralmente
comprometido com denúncias de fraudes e desvios de recursos públicos.
Como sabido, o gatuno não quer o fortalecimento de quem o possa pegar.
Então, mais fácil e prático enfraquecer a investigação – à falta de recursos!
Ninguém nega a importância da Polícia Federal no atual contexto do País.
Operações como a Lava Jato e a Zelotes, por exemplo, além de estancar a
sangria do dinheiro do povo, levam à revelação e punição de corruptos e
corruptores – de alto a baixo nas esferas de poder!
E, sem os devidos recursos, essas investigações estarão comprometidas,
destinadas ao insucesso. Não será essa a intenção de um desgoverno sem
precedentes, que deixou o Brasil de cócoras e entregue a todo tipo de
abusos?
Não se trata da só expressão do não reconhecimento da relevância da
Polícia Federal, mas da perceptível reação à sua ação
investigativo/reveladora, em nada conveniente àqueles que se hão servido
da população, ignorante de sua condição de mero joguete de interesses
inconfessáveis.
Como dito por Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação Nacional
dos Delegados da PF, ‘O dinheiro aplicado na Polícia Federal não é um
gasto, é investimento público com retorno social e financeiro.’ E quem lho
pode contestar?
Melhor seria, mesmo, a implantação da autonomia orçamentária e
financeira daquela Polícia – do que trata a PEC 412/09. Com isso, a PF não
ficaria refém de cortes orçamentários danosos a suas importantes
atividades, em especial, de caça aos muitos corruptos do País – peixes
grandes, a comandar o esquema de desagregação do estado brasileiro.
E quem fez o jogo da tesoura do governo? O relator do Orçamento,
deputado Ricardo Barros (PP/PR), o mesmo que não considerou ilegais as
pedaladas de Dilma e quer ver aprovadas suas contas de 2014, que o
Tribunal de Contas da União (TCU), órgão especializado, unanimemente
rejeitou!
Falar o quê? Farinha dum só saco, eis a expressão adequada. O concerto
está à vista de todos. O acordo político sobrepaira, a esmagar aspectos
ético/morais. Afinal, neste mundo decadente, há o que supere o poder do
dinheiro e do status que ele dá?
Sem sombra de dúvida, essa é a lógica que lá reina – no olimpo do Palácio
do Planalto e no panteão do Congresso Nacional. Triste realidade esta
nossa, em que a verdade e a justiça se vergam ao jogo de aparências e à
imbecilidade humana, na sua tessitura mais vil.
Há notícias de que, em Curitiba, onde sediada a Força Tarefa da Lava Jato,
a Polícia Federal estava com contas atrasadas e correndo o risco de corte de
energia elétrica, do que evitado por repasse de recursos pelo juiz federal
Sergio Moro.
A verdade é que não convém dar recursos, ao menos minimamente
suficientes, a instituição que possa desbaratar organização criminosa
formada a partir das altas esferas do poder, feita para neste permanecer e à
Nação empobrecer.
E não serve o jogo de palavras tendente a justificar e legitimar a glosa
governamental, pois à vista de todos o real objetivo de impedir novas e
mais profundas investigações da Polícia Federal, cujo sucateamento é o
objetivo exclusivo.
Em verdade, quer-se desmontar a Polícia Federal, tolhendo-lhe a eficiência
naquilo que tem de melhor: averiguar! Acuada e alvejada, a organização
criminosa que aí está reage – por meio de cortes orçamentários prejudiciais
aos interesses do grosso da sociedade brasileira.
Quem vive na sujeira, e da sujeira, não admite se possa passar o Brasil a
limpo, coisa a que se vem dedicando a PF, sob aplausos das pessoas de
bem! Sabe-se do que pode fazer a falta de recursos – sobretudo, no ânimo
dos policiais, agentes públicos a serviço do País.
A corrupção aí está – e quer ficar! Cabe-nos a todos, povo brasileiro, a
iniciativa de mudar as coisas, de lhes dar um basta. Olho aberto, ouvido
aguçado, percebendo quem é quem – para que a tesoura da corrupção não
enterre, de vez, os sonhos dum Brasil melhor e mais digno! Enfim, as
promessas duma grande Nação!