Operação Acarajé sobe a rampa do Planalto
A análise a seguir reproduz trechos da coluna “Top Mail”, do jornalista Jarbas de Holanda, distribuída nesta quarta-feira (2).
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A capacidade e a disposição da presidente Dilma de preservar alguma autonomia político-administrativa – inclusive na condução da economia – reduziram-se a quase nada com a rendição ao lulopetismo ao sacrificar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dos poucos de sua própria escolha. O que levou Delfim Netto, em artigo de anteontem no Valor, a dirigir-lhe, ainda, um apelo/advertência: “É hora de enfrentar a esquerdopatia eleitoral oportunista que esconde o corporativismo do PT. É ela que parasita o seu governo e se opõe a mudanças estruturais…”.
O sacrifício de Cardozo refletiu, também, outro fator de peso: a subida da rampa do Palácio do Planalto pela operação Acarajé, centrada no publicitário João Santana, marqueteiro da campanha reeleitoral. Esta agora objeto de fortes suspeitas de ter sido financiada com vultosos recursos provenientes de propinas do petrolão.
Num contexto em que, de um lado, o atropelamento de algumas reformas propostas pela equipe econômica, pela maior subordinação do governo ao lulopetismo, reforça o fantasma do impeachment (que pode ganhar ampla adesão do empresariado). E, de outro, o fortalecimento da Lava Jato e das investigações paralelas adensa este fantasma e o seu parceiro – o da cassação da chapa Dilma/Temer, pelo TSE. Fortalecimento nutrido pela decisão, histórica, do STF de autorizar o cumprimento das penas de réus condenados na 2ª instância judicial, pelo forte impacto da operação Acarajé e por novas e importantes delações.
Três ingredientes que, robustecidos pelo agravamento dos efeitos sociais da crise econômica, favorecem o sucesso do recomeço das manifestações de rua, no próximo dia 13.
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Mas esse mesmo contexto tem mais um ingrediente – este muito negativo – política e institucionalmente.
Trata-se das reações do ex-presidente Lula diante de atos de autoridades judiciais, policiais e da Receita Federal para apuração de várias denúncias de irregularidades que o envolvem. Reações que vão de ataques verbais a juízes e procuradores e outras autoridades a tentativas de restrição ou cerceamento do papel da Polícia Federal.
Propósito traduzido em reiteradas críticas e cobranças ao ex-ministro da Justiça, e que foram responsáveis pelo afastamento dele. E na busca de cerceamento que, dado sua forte influência no governo, poderá estender-se de um remanejamento de delegados até o corte de recursos operacionais do órgão.
Mas que, felizmente, se posto em prática, não escaparia a denúncias da imprensa e repúdio do conjunto da sociedade.