Uma leitura crítica da carta de Lula

Frederico Vasconcelos

Sob o título “Lula e a carta ao Judiciário!“, o artigo a seguir é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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Lula, o até aqui intocável, atacou o Poder Judiciário. Chamou de covardes aos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do STF (Supremo Tribunal Federal). Para não fugir à regra, o fez de forma grosseira – como de seu feitio e do desnível de sua educação!

Pego com a boca na botija, em gravação legal autorizada pelo Judiciário, diante da reação de ministros daqueles tribunais, agora, divulga ‘carta aberta’ para remediar as consequências dos atos. Verdadeiramente, por medo, busca amaciar o ‘couro’ dos juízes – os mesmos que, crê ele, o haverão de oportunamente julgar! E, para tanto, mestre nesta arte, faz-se vítima das circunstâncias – atacando esse mesmo Judiciário, por ação dita ilegal do juiz federal Sergio Moro.

Formalmente, a carta está bem escrita. Essencialmente, não! Pela simples razão de traduzir inverdades, na base duma elegância que Lula não tem.

Certo, pois, ter sido feita por terceiro (s) – atento às particularidades do caso e vocacionado (s), ao menos na aparência do texto, à tarefa de bombeiro (s).

O pensamento foi um só: estrago feito, vejamos o que dá pra fazer! E se fez isso, a tal carta – reveladora!

Lula, o democrata! É a carta que o diz! Vai além, atribuindo-se a condição de fiel observador da lei e respeitador do Judiciário. Porém, assume postura de vítima de injustiça, por violentada sua intimidade e da família – em razão de vazamento de informações tidas por ilegais. Mas, Lula se esquece de estar sendo investigado. Lula não sabe de leis, embora seus advogados presuntivamente saibam – a agravar a situação!

A carta não deixa de ser um libelo à crença! Pois, efetivamente, dela se vê um Lula crente. Crê nas instituições democráticas e na relação independente e harmônica dos Poderes. Crê em critérios de impessoalidade, imparcialidade e equilíbrio, a nortearem magistrados incumbidos da missão de fazer justiça. Também crê nas instituições e pessoas que as representam.

Enfim, crê na Justiça e na esperança de que esta se lhe faça presente –naquilo de seu interesse!

Claramente, o papel grafa ideias e conceitos desmentidos pelos lábios. Os de Lula, nas muitas gravações dadas a conhecer. Destas, cotejadas com os termos da carta aberta, faz-se possível concluir – sem medo de errar – da existência de dois Lulas, o da carta (que com ele nada se parece) e o das gravações, com informações saídas da própria boca. E, como sabido, o que a boca fala mora no coração!

Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo. (Abraham Lincoln). E há tempo para tudo, para enganar e para dar-se a revelar!

E, para Lula, chegou o tempo de se dar a conhecer, apresentar, mostrar-se qual de fato o é – sem máscaras!

Lula jamais foi vítima! Está mais para algoz! Na medida em que procura obstruir o normal funcionamento da Justiça – do que existem provas mais que claras! –, por ele tachada de covarde, e pelo simples motivo de não lhe atender a todos os reclamos, fazendo-lhe todas as vontades, bate de frente com a crença que alardeia ter – de respeito às instituições democráticas e à própria democracia.

Inda discorde do procedimento do juiz Sergio Moro, não lhe era dado – sobretudo, tratando-se de ex-presidente da República (por duas vezes) – insurgir-se como o fez, desabridamente, de forma ofensiva e grosseira, a revelar sua verdadeira essência. O escárnio, a ironia, tudo somado, denotam uma personalidade egocêntrica, arrogante e, na expressão do ministro Celso de Mello, do STF, autocrática!

Lula é, de fato, presunçoso, autoritário, tirânico! Suas palavras o definem, a desmentirem a tentativa da carta de mostrá-lo mais como cordeiro que lobo. Em vão! Nem todos são imbecis, despidos da capacidade de raciocinar, sentir, apreender e melhor concluir.

E não serão frases bem postas, a observarem regras de português, que farão o milagre da transformação de Lula naquilo que ele não é e está muito longe de vir a ser!

Lula desconhece limites, que não os do próprio interesse! Lula não se dispõe a obedecer, respeitar. Lula só quer mandar, custe o que custar!

Solte Lula, pois, quantas cartas quiser, assessorado por quem quiser, e esse só fato em nada mudará a constatação segura de que o oportunismo populista é a única coisa que se vê em seu olhar! Lula nos olha a todos, e ao País, como coisas menores, a serviço de seu projeto de poder.

Todavia, Lula, tenha a convicção e a certeza de que só o Brasil decente e seu povo presente haverão de prevalecer.