O “aliado pontual” do PT em Santo André

Frederico Vasconcelos

Celso Daniel e Ronan Maria Pinto

Os negócios entre Ronan Maria Pinto, preso temporariamente nesta sexta-feira (1), e o Partido dos Trabalhadores vieram à tona quando o Ministério Público Estadual monitorou, durante meses, os atos do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

Além de investigar os contratos suspeitos com empreiteiras e empresas no município, havia o interesse em mapear como seria o esquema de corrupção e financiamento de campanha do PT em nível nacional.

Celso Daniel era o coordenador da campanha de Lula à presidência em 2002.

Empresário de ônibus oriundo de Minas Gerais, Ronan foi acolhido pelo PT mesmo tendo prestado relevantes serviços a Paulo Maluf. Ronan firmou compromisso com Maluf para reduzir a tarifa de ônibus, rompendo com o sistema de municipalização dos transportes adotado na gestão da ex-prefeita Luiza Erundina, então no PT.

Em entrevista ao editor deste Blog, publicada na Folha em setembro de 2000, às vésperas da eleição que o reconduziria à prefeitura, Celso Daniel minimizou a importância de Ronan. Alegou que o empresário era “um aliado pontual”.

Daniel comentou, por telefone, as acusações e dossiês que circulavam sobre direcionamento de licitações para favorecer Ronan, amigo e sócio de Sérgio Gomes, o “Sombra”, ex-assessor do prefeito e homem influente na prefeitura.

Nessa entrevista, o prefeito disse que os negócios entre Ronan e Sérgio eram “uma questão privada, que diz respeito a ele” [Sérgio]”. O prefeito, então licenciado, referia-se à compra de dois imóveis em Santo André, no valor de R$ 280 mil, adquiridos em sociedade por Ronan e Sérgio.

Segundo Ronan, Sergio havia prestado consultoria a sua empreiteira Rotedali, na área de limpeza pública, e teve serviços contratados por suas empresas de ônibus Coxipó e Transvipa.

Suspeitava-se que, a título de romper o cartel de limpeza pública no município, a administração de Daniel havia feito um acordo informal que permitiu facilitar a “entrada” das empresas de Ronan em Santo André. Ou seja, substituíra o “cartel de empresas do lixo”, que havia 22 anos monopolizava os serviços na área de limpeza pública, por um fornecedor preferencial.

Além de operar na área de transportes e serviços de limpeza, Ronan ganhou contratos na área da construção.

As eleições de 2000 em Santo André foram fartas em recursos, o que contrastava com a singela prestação de contas da campanha do petista.

Em maio daquele ano, o Ministério Público abriu investigação sobre contratos da prefeitura com duas empresas de Ronan: a Projeção Engenharia Paulista de Obras Ltda. e a Rotedali Serviços e Limpeza Pública Ltda.

De 125 obras contratadas pela prefeitura de Santo André, no total de R$ 124 milhões, a Projeção havia ficado com 40 contratos (R$ 13 milhões). Daniel sustentou que aquela empresa “ganhou um número de licitações razoavelmente grande, mas foram procedimentos regulares”.

Os negócios com empresas de Ronan eram reproduzidos em outros municípios administrados pelo PT.

Ronan criou a construtora Projeção em 1995, com sede em Santo André e filial em Catanduva (município então gerido pelo PT). Já a Rotedali foi fundada no ano seguinte em Catanduva, com filial em Santo André.

Em novembro de 2003, a Folha revelou o interesse de Ronan em comprar o “Diário do Grande ABC“. O jornal, com sede naquele município, na época tinha circulação de 30 mil exemplares durante a semana e de 50 mil nos domingos, segundo a empresa.

A família Polesi, que detinha 40% das ações da empresa jornalística, resistia. Tentou evitar a entrada de Ronan, diante das suspeitas de envolvimento do empresário no esquema de propinas na prefeitura de Santo André. A aquisição foi concluída em 2004, depois de longa disputa judicial.

Em novembro do ano passado, o empresário foi condenado em primeira instância a 15 anos e seis meses de prisão por concussão (cobrança indevida) e corrupção passiva. Ronan foi acusado de ter se associado a Klinger Souza, secretário municipal de Transportes, e a Sérgio Gomes da Silva, para extorquir donos de empresas de ônibus da cidade.

Em nota, a defesa de Ronan –preso temporariamente sob suspeita de receber R$ 6 milhões para não revelar irregularidades do partido– afirmou nesta sexta-feira (1) que o empresário não tem “relação com os fatos mencionados” e está “sendo vítima de uma situação que, com certeza, agora, poderá ser esclarecida de uma vez por todas”.

A defesa afirma ainda que o empresário sempre esteve à disposição das autoridades para “esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da operação, assim como a citação indevida de seu nome”.