O impeachment e a vida que segue
O comentário a seguir é de autoria do juiz federal Roberto Wanderley Nogueira, do Recife.
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Diante do desfecho do atual processo de “impeachment” presidencial, observo o seguinte:
A presidente Dilma não fez apenas um mau governo. Ela simplesmente mexeu nos orçamentos públicos sem autorização prévia do Senado da República ao qual devia obediência constitucional. Vem daí a rebordosa.
O Senado Federal cobra agora a sua autoridade outrora negligenciada, obedecidos todos os procedimentos e observadas todas as competências. Simples assim.
O maior problema da Dilma, a rigor, foi a soberba de acreditar que podia governar fora do sistema de freios-e-contrapesos e da interdependência dos poderes políticos da República, quaisquer que sejam os seus atores. A República é um sistema de impessoalidades e de prevalência da coisa pública (res publica).
Por isso mesmo, se ela não queria enfrentar a adversidade de uma maioria ideologicamente desfavorável estabelecida na atual legislatura no Senado Federal, teve de enfrentar agora e de todo modo essa mesma adversidade. Lei da volta.
Terá sido esse um risco calculado? Pode ter sido, mas se não o fora, restou a configuração de uma cabal inapetência. Em ambos os casos, pois, o “impeachment” está muito bem dosado e nada tem a ver com “golpe”, uma narrativa para parecer honrosa a má gestão que motivou esse processo em comento findo.
Vida que segue.