Maestro Lula e duas interpretações sobre uma peça

Frederico Vasconcelos

Os artigos a seguir –enviados ao Blog com pedido de publicação– tratam, sob ângulos distintos, do mesmo tema: a denúncia anunciada pela força-tarefa da Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua mulher, Marisa Letícia, e mais seis pessoas.

O primeiro é de autoria de Edison Vicentini Barroso, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo; o segundo, de Leonardo Isaac Yarochewsky, advogado criminalista.

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O maestro Lula e a vítima Brasil

Na cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, não existem adversários à altura. Afinal, segundo claramente revelado pela Procuradoria da República, ele é o maestro da maior organização criminosa de que se tem notícia. Os demais, figurantes, não passam de peões no jogo de xadrez por ele montado.

O chefe ou ‘general’, como a Lula se referiram os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, começa a se incomodar com o fato de que há seres pensantes no Brasil, capazes de desvendar os caminhos de seus malfeitos, tornando pública a constatação de quem de fato é.

Esse indivíduo, que de cidadão nada tem – pois suas obras ofendem o próprio conceito de cidadania –, duas vezes presidente do País, no solo fértil dum povo ingênuo e ignorante, teve tempo mais que suficiente para pôr em prática plano de perpetuação no poder, pela compra de apoio parlamentar e financiamento ilegítimo de campanhas eleitorais – tendo por base e meta esquema de desvio de recursos públicos e enriquecimento ilícito.

São informações do Ministério Público Federal, a serem encaradas com a devida seriedade. E Lula se diz vítima de perseguição política, dum golpe dos adversários. Faz-me rir! Golpeado está o Brasil, por suas ações espúrias – a darem mostras de que Lula só respeita seus objetivos, sacrificando a quaisquer princípios ético/morais.

Justo ele, que se diz o homem mais honesto do Brasil. A vingar essa falsa atribuição, o País anda mal de honestidade. E Lula foi de novo denunciado.

Agora, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – no caso do tríplex do Guarujá. Mas, não está só. Dentre outros, acompanha-o Marisa Letícia, sua mulher. Lula fez escola, dentro e fora de casa – de se reconhecer.

Finalmente, terá pela frente o juiz federal Sergio Moro – da tão temida ‘República de Curitiba’. Ao menos, até eventual posição contrária do STF, que, consciente ou inconscientemente, até aqui, o tem protegido. A Lula, que chamou seus ministros de covardes!

Lula imaginava-se sem adversários que lhe fizessem frente. Decerto, com a sensação enganosa da impunidade incondicional e irrestrita – do que deve ter passado, a título de herança maldita, aos próprios familiares. Todavia, existem sinais de que, mesmo no Brasil, há limites. No caso, os da lei – embora, não raras vezes, adaptada aos interesses menores de homens colocados nas maiores posições da escala social.

E Lula dar-se-á conta de que, além do tempo – senhor da razão –, seu grande e invencível adversário, sem forma nem figura humana, será a só e simples aplicação da lei – a dar a cada um segundo suas obras.

Lula tem ambições políticas. Quer ser presidente de novo. Porém, inda não se apercebeu de que a orquestra que regia não é mais a mesma. O tempo corre, as coisas mudam, as pessoas crescem, amadurecem e passam a enxergar. E isso não é bom pra Lula, a sempre contar com a cegueira generalizada para melhor se aproveitar das circunstâncias e bem servir-se da inocência da população.

O espertalhão tem motivos para se preocupar. Hoje, o ambiente lhe é adverso – qual o reverso da medalha. Ontem, falando para uma esmagadora maioria de cegos, indiferentes aos rumos da Nação, Lula era recordista de popularidade. Agora, seu recorde é de rejeição – acima dos 50%!

Outrora, o sentimento de poder absoluto, de impunidade sem embaraço.

Atualmente, Lula há de ser visitado pelo medo de ir parar na cadeia. Aliás, só não o foi, ainda, porque no Brasil, de leis e instituições frouxas – ao menos, para alguns tidos por poderosos.

Lula é, segundo o procurador da República Deltan Dellagnol, o ‘comandante máximo do esquema de corrupção’.

No momento, atingiu a condição de reles suspeito de se beneficiar de dinheiro sujo. Ele, o mais poderoso de todos. A alma mais honesta deste País – segundo suas palavras.

Agora, é réu em Brasília e denunciado em Curitiba. Fugiu de Sergio Moro o quanto pôde, como o diabo foge da cruz. Em vão! Sem a cobertura dos ‘covardes’ do STF, está quase frente a frente com o temido juiz. E disto se quer ver!

Embaraçou investigações, obstruiu a Justiça, fez e desfez do Brasil e de seu povo. Esse é Lula, sanguessuga da Nação, modelo de como não se deve ser.

Lula identifica-se, como nenhum outro, com o atraso e a falta de vergonha.

O despudor em pessoa. A vida impor-lhe-á limites, hoje ou amanhã – queira ou não.

Lula haverá de curvar-se às diretrizes da lei, sob a batuta dum novo maestro, mestre na arte de reger a orquestra da decência, hombridade e honradez – da qual Lula desconhece. Se réu vier a ser perante Moro, do que existem boas chances, Lula terá de descer do pedestal da ilusão de poder, já inexistente, curvar-se aos impositivos da Justiça e desvestir-se da pose de perseguido político.

Prestará contas dos atos que vitimaram o Brasil e seu povo, não mais junto ao trono da vaidade que sempre o caracterizou, mas agarrado ao banquinho mesmo de réu – do que nada mais será.

Finalmente, Lula conhecerá a lei de perto – à distância das regalias da sorte advindas de falcatruas que arruinaram o País. Não mais será chamado de excelência e convidado de honra em assembleias seletas, mas será compelido a sofrer na pele os merecidos respingos da Excelência da Lei!

Esta, implacável, lhe dirá: aqui estou, Lula, para aconchegá-lo no regaço da verdadeira Justiça! Tempos melhores hão de vir. Viva o Brasil, sob o império da legalidade!

Edison Vicentini Barroso – magistrado e cidadão brasileiro.

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Um circo chamado Lava Jato

No final da tarde do dia 14/9, a Força Tarefa responsável pela famigerada Operação Lava Jato ao apresentar perante a imprensa denúncia contra o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-primeira-dama Marisa Letícia e mais seis pessoas se superou.

Num verdadeiro espetáculo circense a Lava Jato encontrou no procurador da República Deltan Dallagnol o mágico que faltava neste circo de horrores, de arbitrariedades e de autoritarismo que tramita sob o pálio do juiz federal Sergio Moro.

Somente um grande ilusionista ou um respeitável mágico para fazer com que os espectadores acreditem naquilo que foi exibido pelo procurador diante dos holofotes da mídia. Neste processo penal do espetáculo e midiático Luiz Inácio Lula da Silva é apontado como o grande vilão e o principal culpado pelas mazelas do país, é elegido pelo procurador da República como “maestro de uma organização criminosa”.

Como todo mágico, o representante do Ministério Público Federal faz caras e bocas para iludir a plateia. Nosso mágico não serrou a mulher ao meio; não fez truques com cartas; não tirou coelho da cartola; não fez ninguém levitar e nem desaparecer. Nosso mágico inovou e transformou Lula em proprietário de um apartamento contra todas as evidências. Nosso mágico, se iludindo com a própria retórica, transformou Lula no maior criminoso da história. Fazendo portanto jus ao nome de ilusionista, ou seja, aqueles que praticam a arte performativa que tem como objetivo entreter o público dando a ilusão de que algo impossível ou sobrenatural ocorreu.

Sem qualquer prova e, portanto, sem justa causa para oferecimento da denúncia os procuradores da República capitaneado pelo procurador Dallagnol transformaram a coletiva em verdadeiro comício contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chegaram ao desplante e ao descaramento de dizer que embora não tivessem provas tinham a convicção de que tudo é verdade. Prova, para que prova se temos mágicos!

Não, senhores procuradores, vossas excelências não são deuses, não são paladinos da justiça e, também, não são heróis. Vossas excelências são funcionários da República e, portanto, do povo brasileiro que merece respeito.

O povo brasileiro não se deixará iludir, ludibriar e enganar, mesmo com o todo o aparato tecnológico, mesmo diante de tanta verborragia, mesmo diante de tanta pompa e arrogância. Acusações infundadas, levianas e sem lastro probatório não passarão. A farsa será em breve destruída. O grande truque não sobreviverá à justiça.

Leonardo Isaac Yarochewsky
Advogado e Professor