Anistia ao caixa dois e “agressão à sociedade”

Frederico Vasconcelos

Mário Sérgio Conti, Rodrigo Maria e Cármen Lúcia

Sob o título “A anistia vem a galope“, o colunista Bernardo Mello Franco trata em sua coluna na Folha, neste domingo (30), da articulação na Câmara Federal para driblar o Ministério Público e aprovar uma anistia geral ao caixa dois.

“Se der certo, será um gol de placa do sistema político ameaçado pela Lava Jato”, diz o colunista.

“Os parlamentares prometem aprovar a criminalização do caixa dois, uma das chamadas dez medidas contra a corrupção. Parece boa notícia, mas há um detalhe. Ao proibir o trambique no futuro, a Câmara quer perdoar quem o praticou no passado.”

Segundo o jornalista, “o novo acordão para ‘estancar a sangria’ tem o aval do governo Temer e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Na última quarta-feira (26), em entrevista a Mario Sergio Conti, na GloboNews, Maia repetiu uma tese dos réus do mensalão: caixa dois e corrupção seriam “coisas distintas”.

O deputado indicou que apoia o perdão ao financiamento irregular das eleições passadas. “Nós temos que dar um corte e dizer que daqui para a frente está criminalizado”, disse, apesar de a lei já prever punições ao caixa dois.

Em 2012, a título de afastar a denúncia de compra de apoio político pelo ex-tesoureiro do PT, a defesa de Delúbio Soares sustentou que “ele operou caixa dois, era ilícito, mas não corrompeu ninguém” e “não tinha em função interna essa atribuição de obter maioria parlamentar”.

Na ocasião, a ministra Cármen Lúcia, atual presidente do Supremo Tribunal Federal, reagiu: “Acho estranho e muito, muito grave, que alguém diga com toda tranquilidade que ‘ora, houve caixa dois’. Caixa dois é crime. Caixa dois é uma agressão à sociedade brasileira”.

“Dizer isso perante o Supremo Tribunal Federal me parece realmente grave porque fica parecendo que isso pode ser praticado e confessado e tudo bem”, afirmou na época a ministra.