“Em 2017, poetar é preciso”, diz Kakay

Frederico Vasconcelos

O texto a seguir, receituário inspirado para o novo ano, é de autoria do advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro (“Kakay”).

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Kakay poetaNum mundo estranho e num momento confuso é sempre necessário nos socorrer da poesia.

Nosso Manoel de Barros ensina que “tem mais presença em mim o que me falta”, e sugere que “há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira”.

É sempre importante dizer ao que viemos, quem somos, o que pensamos.

Claro que muitas vezes, e até felizmente, na contramão da verdade encomendada e esperada. E sempre nos socorrendo de Pessoa no grande “Livro do Desassossego”: “a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida”.

Mas é preciso também resistir, não nos agacharmos na hora do tapa,  fora da possibilidade do soco, como no “Poema em linha reta”, e fazendo o enfrentamento necessário, que nos cabe e até que nos resta. Enfrentar a mediocridade que grassa e não discute nenhuma ideia, a mesmice que cansa e não nos faz pensar, a agressividade dos que não têm argumento, o obscurantismo que teima em ser a regra, a falta de humor e a empáfia que Alvaro de Campos já desnudava: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo”.

E ter o cuidado com gente que nunca leu Florbela Espanca, que dizia “se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis”. Mas acreditando, ainda, nos homens, nas pessoas, lembrando Bukowiski, que na sua profunda descrença ainda vaticinava: “um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar”.

Vamos então nos permitir deixar nossas almas voarem e com as almas os nossos sonhos, as nossas esperanças. E se voarmos juntos haveremos de fazer uma travessia para um mundo melhor, onde estaremos lado a lado com menos opressão, mais liberdade, mais solidariedade, mais confiança na dignidade, na amizade.

Que em 2017 o mundo volte a ser mais simples e as pessoas se olhem sem desconfiança, sem arrogância, com amor, ou, pelo menos, sem preconceito e sem ódio.

E recorram a Brecht:” do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”.

Lembrando Schopenhauer, brincando com os que se julgam deuses do mundo e donos da verdade: “ninguém é realmente digno de inveja, e tanto são dignos de lástima”.

Vamos nos permitir, vamos ser só leves, com nosso Caieiro brasileiro: “poesia é voar fora da asa”.

Vamos poetar e ser feliz.