Os choques entre as facções e as bravatas oficiais

Frederico Vasconcelos

Ferreira Pinto

 

“O PCC não tem como desafiar novamente o poder constituído”, afirmou em julho de 2012 o então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, em entrevista ao editor deste Blog publicada na Folha.

O secretário estava reafirmando declaração anterior, de 2009, quando disse que a facção “não tem condições de colocar em xeque a Segurança Pública”.

“A avaliação está mantida. Não tem como colocar em xeque. A Rota tem feito um trabalho de esfacelamento dessa facção. O número de marginais presos aumentou consideravelmente. Há sempre uma tendência deles de fazer alguma retaliação à Rota. A facção não tem como desafiar novamente o poder constituído”, disse Ferreira Pinto.

Na época, o secretário reforçava a opinião do governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo a qual os criminosos que enfrentarem a polícia vão levar a pior.

“Ele quis dizer que há um preparo muito maior dos policiais, com mais equipamentos. Toda ação é planejada. É evidente que, nos confrontos, o número de mortes é muito maior do lado de lá. Essa é mais ou menos a linha de raciocínio do governador, sem nenhuma preocupação de estimular confronto ou de desafio”, afirmou o secretário.

Em artigo sob o título “Tática da negação ajudou a alimentar PCC há 20 anos“, publicado neste domingo na Folha, o jornalista Fábio Zanini registra que vem de longe a tentativa de minimizar uma das facções que está no centro das recentes matanças nos presídios, com o conflito entre o PCC e o Comando Vermelho.

Em maio de 1997, lembra Zanini, o então secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, João Benedicto de Azevedo Marques, disse que “esse PCC não existe”. “É uma ficção absoluta”, afirmou.

“Existia, sim. Havia sido criado dois anos antes por presos na Casa de Custódia de Taubaté (SP) e já tinha até estatuto”, sustenta o jornalista.

Quatro anos depois, o PCC promoveu a primeira grande onda de rebeliões em presídios paulistas.

Em outubro de 2016, Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do governo Alckmin, disse que informações sobre a atuação dessas organizações em presídios eram muitas vezes “mera bravata”.