Em Portugal: “Sergio Moro num país tropical”

Frederico Vasconcelos

Sob o título “Notícias de Portugal“, o artigo a seguir é de autoria do advogado José Paulo Cavalcanti Filho, jurista e membro da Academia Pernambucana de Letras. O texto foi publicado originalmente no “Diário de Pernambuco” nesta sexta-feira (14).

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Numa semana marcada pela devastação da Odebrecht declaro, a quem interessar possa, estar enojado com tanta lama. Com Brasília. Com a maneira torta de fazer política, por lá. E, nesse dia santo de sexta-feira, decidi tirar férias do Brasil. Para falar do português falado em Portugal. Diferente do nosso.

Só num exemplo, com palavras, “pois sim” lá é sim. E “pois não”, é não. O contrário de nós, pois.

Diferentes nos personagens, também.

Como “Os 3 Patetas”, que são “Os 3 Estarolas”. Ou “O Gordo e O Magro”, que são “Bucha e Estica”.

Até nos filmes.

“Bastardos inglórios”, em Portugal é “Sacanas sem lei”.

“Um corpo que cai” é “A mulher que viveu duas vezes”.

“Quando explodem as paixões” é “Aguenta-te canalha”.

“A Noviça rebelde” é “Música no coração”.

“Clamor do sexo” é “Esplendor na relva”.

“Duro de matar” é “Assalto ao arranha-céus”.

Sem contar ser difícil, para brasileiros, ler jornais portugueses. Não por estarem errados, os textos. Apenas se dando que, por vezes, não os conseguimos compreender.

Alguns exemplos de manchetes recentes:

• “O oceano é um sítio de muitos animais escalafobéticos”.

• “É por isso que tenho esta carantonha”.

• “Os chumaços estão de volta”.

• “Por que há pens a sair das paredes?”

• “Primeiro a marca e depois a bejeca”.

• “Ataca pais com golpes de catana”.

• “O joelho de Orelhas na vida de Canelas”.

• “Os piratões da TV à borla”.

• “Rabo vira boia”.

• “A Antiga Casa Faz Frio lá escapou”.

• “Homem acusado de assédio sexual depois de ter dito à mulher, quando começou a chover – não somos nada perante a força da natureza”.

• “Para praticar remo, na doca de Santo Amaro, leva-se o barco às costas”.

• “Marinha envia 50 fuzileiros para o golfo da Guiné. Por contenção de custos, ficam todos estacionados na Lagoa de Santo André”.

• “Comissão Europeia decide criminalizar estúpidos hábitos dos casais, no supermercado, em que um fica na fila e o outro vai trazendo as compras”.

• “New York considera o buraco da Avenida de Ceuta o mais lindo da Europa”.

• “Estamos convictos de que não se elimina o sofrimento com a morte”.

• “A felicidade consiste em ter boa saúde e má memória” (entrevista de Eurico Lafer).

• “Cavaco (Silva, ex-presidente da República) diz que (José) Socrates (ex-primeiro ministro) usou um micro-ondas para espioná-lo”.

• “Mesmo aquilo que é mais improvável, como sejam as vacas voarem, também isso pode não ser verdade”. António Costa, primeiro ministro.

• “Estou a procurar Augusto M. Seabra e Vasco Valente para salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também” (João Soares, Ministro da Cultura).

• “Sergio Moro num país tropical”.