Entidades criticam general que barrou juiz
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a entidade estadual que representa os magistrados do Acre divulgaram notas de repúdio à conduta do general José Eduardo Leal de Oliveira, que impediu o juiz Hugo Torquato de acompanhar inspeção das Forças Armadas no presídio de Cruzeiro do Sul.
Segundo o presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Acre, ao impedir que o juiz acompanhasse a operação, o militar declarou “Estado de Sítio” e afirmou que “o magistrado estava afastado das funções”.
Para o presidente da AMB, Jayme de Oliveira, segundo a Constituição, é o Poder Judiciário que tem jurisdição sobre o presídio. “Em momento tão grave para a nação, impõe-se equilíbrio e respeito às instituições”, afirmou Oliveira.
Segundo a imprensa local, a ação da 17ª Brigada de Infantaria foi realizada com base em decreto presidencial de janeiro, “no qual o presidente Michel Temer autorizou o uso dos contingentes das Forças Armadas nas inspeções aos presídios do país, com o objetivo de garantir a lei e ordem”.
O site ac24horas registrou que, de acordo com o procurador de Justiça Militar José Luiz Pereira Gomes, “o indeferimento da presença do magistrado durante a revista nas celas se baseou no princípio de que, naquele momento, a penitenciária estava sob controle das Forças Armadas, não cabendo a um juiz interferir na operação”.
Ao mesmo informativo, o juiz Hugo Torquato definiu o episódio como “uma atuação, embora com boas intenções, desrespeitosa”.
Segundo o magistrado, o general questionou “com ordem de quem eu estaria ali”. Ainda de acordo com a publicação, o militar afirmou que os policiais que estavam na escolta do juiz “estavam sob o comando dele também”.
Para o juiz, determinar sua retirada do local “é uma conduta que não tem qualquer amparo, que é truculenta”.
A seguir, a íntegra das manifestações das entidades de magistrados.
***
Nota pública
*
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), entidade que reúne mais de 14 mil juízes brasileiros, vem a público para manifestar seu repúdio em relação à conduta do comandante da 17ª Brigada de Infantaria, o general José Eduardo Leal de Oliveira, ao impedir que o juiz da Vara de Execução Penal Hugo Torquato acompanhasse a operação no presídio Manoel Neri da Silva, em Cruzeiro do Sul, no Acre.
Tão logo informada, a AMB passou a acompanhar a situação, ao lado da Associação dos Magistrados Acreanos (Asmac), disponibilizou sua estrutura jurídica ao magistrado e comunicou as autoridades judiciais superiores para as providências necessárias.
Em momento tão grave para a nação impõe-se equilíbrio e respeito às instituições, e muito particularmente ao Poder Judiciário que, no caso específico, tem a jurisdição sobre o presídio.
Ressalte-se que a atuação das Forças Armadas em GLO (garantia da lei e da ordem) não afasta o regular e constitucional funcionamento do Judiciário Estadual.
A AMB, sem prejuízo das medidas necessárias no caso concreto, envidará esforços junto às autoridades militares superiores e também junto ao Ministério Público Militar para que tais atos não se repitam.
Jayme de Oliveira
Presidente da AMB
*
Nota de Repúdio
A Associação dos Magistrados do Estado do Acre (Asmac) vem repudiar os atos cometidos pelo comandante da 17ª Brigada de Infantaria, o general José Eduardo Leal de Oliveira, ao impedir que o juiz da Vara de execução Penal Hugo Torquato acompanhasse a operação no presídio Manoel Neri da Silva, em Cruzeiro do Sul, declarando Estado de Sítio e afirmando que o magistrado estava afastado das funções.
A diretoria desta Associação, que representa todos os magistrados do Estado do Acre, informa que a presidente do Tribunal de Justiça, a desembargadora Denise Bonfim, encaminhou para a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), solicitação de apuração dos fatos.
A diretoria da Asmac presta todo apoio ao Dr. Hugo Torquato, vice-presidente desta entidade, esclarecendo à população que é competência do juiz das Varas das Execuções Penais a vistoria dos presídios estaduais.
Luís Vitório Camolez
Presidente da Asmac