‘Roda Viva’ com representante dos delegados da Polícia Federal promete polêmicas

Frederico Vasconcelos

A presença no “Roda Viva” desta segunda-feira (31) do presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, ocorre no momento em que a Operação Lava Jato enfrenta a ameaça de esvaziamento e abriga divergências entre a PF e o Ministério Público Federal.

Reportagem de Camila Mattoso, publicada hoje na Folha, revela que a PF identificou falhas nas delações da Odebrecht. Na avaliação dos policiais federais, essas deficiências “dificultam e comprometem as investigações das informações passadas à Procuradoria-Geral da República”.

Ainda segundo a reportagem, os investigadores da PF reclamam do fato de “até hoje não terem acesso aos sistemas que embasaram as planilhas de repasses de dinheiro, caixa dois ou propina a parlamentares”.

A interferência da Polícia Federal na condução das delações premiadas é uma questão polêmica. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustenta que celebrar as colaborações premiadas é uma atribuição Ministério Público, como titular da investigação.

A autonomia da Polícia Federal, tese abraçada pela ADPF, também é uma proposta combatida pelo MPF.

Quando foram divulgadas as declarações do senador Aécio Neves (PSDB-MG) gravadas pelo empresário Joesley Batista –sugerindo uma articulação para interferir nas investigações da Lava Jato–, a ADPF voltou a defender a autonomia.

Segundo nota pública da associação dos delegados, a manifestação do senador mineiro “reafirma a urgência na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição, número 412, que consolida a autonomia da Polícia Federal. Essa PEC dormita na Câmara desde o ano de 2009”.

A ADPF sustentou que os Delegados da Polícia Federal não permitirão qualquer tipo ingerência na condução dos inquéritos, nas investigações, bem como na realização de operações, cujos alvos principais sejam aqueles que atentam contra os cofres públicos”.

Na mesma manifestação, a associação afirmou que “a Polícia Federal é uma polícia de estado e não de governo. É um patrimônio do povo brasileiro que precisa ser defendido por todos”.

Como este Blog já registrou, a autonomia da PF é  uma proposta que divide a corporação –tem a oposição de servidores, agentes e escrivães, e é considerada incompatível com o controle externo da atividade policial pelo MPF, atividade garantida pela Constituição Federal.

Carlos Eduardo Sobral foi eleito presidente da ADPF, em 2015, com 97,15% dos votos.

Compõem a bancada do programa da TV Cultura os jornalistas Diego Escosteguy, editor-chefe da revista Época; Laura Diniz, editora do site de notícias jurídicas JOTA; Flávio Freire, coordenador de Nacional e Política do jornal O Globo, em São Paulo; Julia Affonso, repórter do jornal O Estado de S. Paulo; e Wálter Nunes, repórter do caderno Poder da Folha.

O programa é apresentado pelo jornalista Augusto Nunes e também conta com a participação fixa do cartunista Paulo Caruso.