Procurador previu em março desgaste com delações da Odebrecht

Frederico Vasconcelos

Em entrevista à Folha em março deste ano, o procurador da República Celso Antônio Três levantou dúvidas sobre o acordo de colaboração do Ministério Público Federal com a Odebrecht e previu que as delações de executivos da empreiteira seriam questionadas.

“Alguém acredita que a Odebrecht tenha 77 corruptores? São, na verdade, cumpridores das ordens de Marcelo [Odebrecht]”, afirmou o procurador, que trabalha no MPF em Novo Hamburgo (RS).

A profecia aparentemente foi confirmada, o que pode reforçar o discurso dos que apostam no esvaziamento da operação.

Reportagem de Camila Mattoso, publicada no último domingo na Folha, revela que a Polícia Federal identificou falhas nas delações da Odebrecht, criticando, entre outras coisas, um exagero no número de delatores e a mudança de versão por parte de alguns.

Segundo os policiais, essas deficiências “dificultam e comprometem as investigações das informações passadas à Procuradoria-Geral da República”.

Ao avaliar o acordo com a Odebrecht, Celso Três afirmou em março: “Toda delação traz só duas certezas. Delator é criminoso confesso. Este delinquente não será punido, eis que anistiado -ou sob pífias penas- pelo Ministério Público. Condenação do delatado depende da prova de corroboração”.

Sobre a obtenção de provas, disse que “apenas o futuro dirá se elas foram ou não obtidas. Até agora [em março], vencidos dois anos, há apenas seis réus no STF. O ex-procurador-geral Roberto Gurgel disse que expandir a investigação a 77 delatores compromete sua finalização”.

Celso Três participou das investigações do caso Banestado, a megalavagem de dinheiro desmontada nos anos 1990 no Paraná, que inspirou procuradores da Lava Jato. O caso Banestado também foi julgado pelo juiz Sergio Moro.

O procurador foi filiado ao PT nos anos 80. Ao assumir função pública, afastou-se da sigla, da qual foi alvo de representações por investigações que realizou. É autor de documento, distribuído no Senado, com críticas às “10 Medidas Contra a Corrupção” defendidas por Sergio Moro e pela força-tarefa.

Na entrevista concedida por e-mail em março, Celso Três afirmou que é “demagogia” invocar o interesse público para divulgar as delações da Lava Jato. “A divulgação derrete o mundo político, o Estado, dilapida a economia, os investimentos e os empregos”, disse.

“A lei da delação impõe sigilo até a apresentação da denúncia. Preserva a apuração e a honra do delatado até então indefeso”, afirmou o procurador.

Ele criticou métodos aplicados pelo MPF, mas não minimizou a importância da Lava Jato. Disse que a operação “é a maior investigação da história”.

“Depois dela, tudo será pequeno.”