Os ponteiros de Temer, Dodge e Janot
Ao se encontrar com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu fora da agenda oficial e da luz do dia –para discutir detalhes da posse, segundo a inconvincente versão oficial–, a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, compromete a imagem de independência da instituição.
A visita registrada por um cinegrafista da TV Globo por volta das 22h desta terça-feira (8), sem conhecimento prévio de Rodrigo Janot, confirma o afastamento entre a nomeada pelo presidente e o atual comandante do Ministério Público Federal.
O que preocupa mais não é o distanciamento entre Dodge e Janot. É a aproximação com Temer, num encontro semelhante ao das visitas escondidas no Jaburu –como a conversa, na calada da noite, de Temer e Joesley Batista, ambos alvo de investigações da Procuradoria-Geral da República.
A iniciativa de Dodge –uma espécie de beija-mão com atraso, pois a fase de visitas a políticos antecede a indicação para o cargo– realimenta a versão de que sua candidatura “entusiasmou caciques do PMDB, como José Sarney e Renan Calheiros”.
Coloca em xeque, inclusive, a avaliação feita por este Blog no final de junho, de que aquela interpretação “pode ter sido uma forma de espicaçar Janot e desgastar a subprocuradora-geral, que não pertence a seu grupo, insinuando o nome de Raquel como alternativa de Temer para reduzir o ritmo da Lava Jato”.
Como registra editorial da Folha, nesta quinta-feira (10), sobre os encontros entre Michel Temer, Gilmar Mendes e Raquel Dodge, “a discrição de tais conversas se alia aos excessos públicos para produzir um mesmo efeito: o sentimento de que, mais uma vez, pretende-se ‘estancar a sangria’ iniciada com a Lava Jato”.