Como surgiu a primeira prova do mensalão do PT
Ao pesquisar os fatos sobre o caso Banestado, laboratório da Operação Lava Jato, segundo análise publicada na Folha deste domingo (26)– o editor deste Blog encontrou registros de um episódio curioso: como foi obtida a primeira comprovação de envolvimento do PT no mensalão.
Em depoimento prestado à Polícia Federal em 2005, um ex-tesoureiro da agência do Banco Rural em Brasília, José Francisco de Almeida Rego, revelou como funcionava o esquema irregular de remessas de dinheiro pela SMPB Comunicação, da qual Valério era sócio.
O procedimento começava com o envio por fax, por uma agência de Belo Horizonte, de uma autorização de saques a serem feitos na agência de Brasília. No fax, eram listados os nomes dos sacadores.
O ex-tesoureiro era o responsável pela distribuição das sacolas com o dinheiro destinado a parlamentares da base do governo.
No depoimento, ele afirmou que, por engano, pagou R$ 200 mil a uma pessoa cujo nome não correspondia ao autorizado pela SMPB. Valério o responsabilizara pelo erro e teria ameaçado o ex-tesoureiro.
O episódio, ainda segundo o ex-tesoureiro afirmou à PF, foi o motivo para deixar o banco, do qual foi demitido em junho de 2004.
Sem ter como repor aquele valor e sentindo-se ameaçado, ele foi à polícia e informou em depoimento onde estava o arquivo morto do banco, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Sem essa informação, a polícia talvez não tivesse chegado às provas. Os responsáveis pelas investigações revelaram, à época, que o banco colaborou nas diligências de buscas.
Ao identificar um comprovante de transferência irregular para o então deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) –que tinha foro privilegiado–, o juiz federal Jorge Gustavo Macedo Costa, responsável pela primeira fase do mensalão petista em Belo Horizonte, pegou um avião e entregou os autos pessoalmente ao então presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, em Brasília.
Naquela época, já havia documentação comprovando como funcionava o mensalão mineiro, também operado por Valério.
Também conhecido como mensalão tucano, essa operação permaneceu ofuscada durante muito tempo pelo chamado mensalão do PT.