Protestos contra Papai Noel de colarinho branco

Frederico Vasconcelos


O Instituto Não Aceito Corrupção divulgou nota pública em que manifesta perplexidade diante do decreto do presidente Michel Temer que estende o indulto natalino a criminosos de colarinho branco.

“O indulto poderá desestimular a celebração de colaborações premiadas, também impulsionando a impunidade desta forma, sendo absolutamente abusiva a magnitude dos benefícios concedidos (80%) da pena, tornando inócuo o trabalho do sistema de justiça e gerando enorme desperdício de dinheiro público, em óbvia contrariedade ao bem comum”, afirma Roberto Livianu, dirigente da entidade.

O instituto concita Temer a rever o decreto, excluindo os crimes de colarinho branco.

Por sua vez, o procurador da República Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato, inclui Temer entre os eventuais beneficiados pelo decreto.

Segundo revela a Folha, Dallagnol criticou o indulto, que chamou de “feirão de Natal para corruptos”, e o próprio presidente.

“Temer prepara uma saída para si (se condenado) e para outros réus da #LavaJato: agora, corruptos no Brasil cumprirão apenas 1/5 da pena e serão completamente indultados (perdoados), como regra geral”, escreveu o procurador no Twitter.

Eis a íntegra da manifestação assinada por Roberto Livianu:

 

Nota Pública

 

O Instituto Não Aceito Corrupção, associação civil de caráter apartidário, multidisciplinar e científico vem a público se manifestar acerca do Decreto Presidencial 9.246, publicado ontem [sexta-feira, 22/12], que concede indulto natalino e dá outras providências.

Causa extrema surpresa a benevolência e o alcance do Decreto mencionando, premiando criminosos do colarinho branco, autores de crimes de corrupção, tema que mais angustia o povo brasileiro conforme pesquisa Latinobarometro 2017 (31%), que detectou ainda que para 97% dos brasileiros ouvidos os políticos exercem o poder em benefício próprio, e não para o bem comum.

Por outro lado, a perplexidade é ainda maior tendo em vista que o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária opinou desfavoravelmente à concessão do indulto aos condenados por corrupção, tendo sido a opinião solenemente desconsiderada pela Presidência da República, cujo mandatário foi denunciado criminalmente em duas ocasiões este ano por crimes de corrupção, associação criminosa, entre outros.

Além disto, chama a atenção o fato do indulto abranger penas de multa, tendo em vista que historicamente a razão de ser do indulto sempre foi a redução da população carcerária (penas privativas de liberdade), sendo sabido que a percepção de impunidade por parte da sociedade é extremamente elevada e esta exagerada concessão do indulto somente contribuirá para o acirramento deste quadro.

Por fim, o indulto poderá desestimular a celebração de colaborações premiadas, também impulsionando a impunidade desta forma, sendo absolutamente abusiva a magnitude dos benefícios concedidos (80%) da pena, tornando inócuo o trabalho do sistema de justiça e gerando enorme desperdício de dinheiro público, em óbvia contrariedade ao bem comum.

Concitamos sua Excelência o Presidente Michel Temer a rever tal Decreto, excluindo do benefício os crimes do colarinho branco, para que a decisão se sintonize com o anseio da sociedade.

São Paulo, 23 de dezembro de 2017.
Roberto Livianu
Instituto Não Aceito Corrupção