Aécio Neves no banco dos réus

Frederico Vasconcelos

O recebimento da denúncia contra o senador Aécio Neves e sua irmã, Andrea Neves, acusados da prática de corrupção, foi precedido pela sentença de uma juíza federal que anulou a remoção compulsória do promotor de Justiça Eduardo Nepomuceno, em 2016.

Nepomuceno investigou as suspeitas de fraude no governo Aécio. Foi afastado da promotoria de Defesa do Patrimônio quando apurava a suspeita de desvio de recursos públicos para uma empresa de Andrea.

O promotor contestou na Justiça Federal portaria da corregedoria-geral do Ministério Público de Minas Gerais, que deu origem às acusações anuladas liminarmente pela juíza de Belo Horizonte.

Na véspera da prisão de Andrea Neves, em maio de 2017, a irmã de Aécio recebeu em seu escritório dois ex-procuradores gerais de Justiça de Minas Gerais. O encontro realimentou a imagem de que o Ministério Público mineiro blindou as administrações tucanas.

Em julho de 2017, a 2ª Turma do STF decidira, em julgamento virtual, negar seguimento a mandado de segurança impetrado por Nepomuceno. A Turma acompanhou o relator, ministro Dias Toffoli, que não vira omissão ou ilegalidade no ato do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que afastou o promotor.

Ontem, a 1ª Turma do mesmo STF decidiu, por unanimidade, tornar Aécio e Andrea réus. O tucano se defende, afirma que o processo lhe permitirá, e a sua irmã, comprovar a inocência em relação às suspeitíssimas transações com o empresário Joesley Batista.

Político jeitoso, frequentador assíduo das noites cariocas, Aécio administrou o estado à distância. Mantinha “parceria” com o Ministério Público estadual, o Tribunal de Contas do Estado, a Assembleia Legislativa e algumas administrações do Judiciário estadual.

Os falsos milagres do “Déficit Zero” e do choque de gestão contaram com o silêncio da imprensa local. A Folha comprovou a maquiagem dos balanços em sua gestão.

“Em Minas Gerais, nos quase oito anos em que Aécio Neves foi governador (2003-2010), um naco significativo do poder no Estado, talvez até mesmo excepcional, esteve nas mãos de Andrea Neves”, afirmou o jornalista Lucas Figueiredo, em seu blog.

Segundo Figueiredo, ela “comandava com mãos de ferro o núcleo de comunicação (imprensa + publicidade + marketing político) e se fazia ouvir, com muita facilidade, nas secretarias de Estado, nas estatais e nos órgãos públicos locais”.

Quem sabe, o Supremo tenha dado nesta terça-feira o primeiro passo para desvendar o modelo de gestão tucana em Minas Gerais, aliás, berço do mensalão petista.