O prestígio e o futuro de Lula

Frederico Vasconcelos

Sob o título “O futuro do Lula”, o artigo a seguir é de autoria do advogado criminalista Tales Castelo Branco, ex-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP (2004-2006) e ex-vice-presidente nacional da OAB (1990-1991).

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O oceano político nacional jamais esteve tão revolto. Nunca, durante toda a história do Brasil, nos defrontamos com situação semelhante: um ex-presidente da República condenado e preso sob a acusação da prática de crime comum (corrupção passiva e lavagem de dinheiro). E sem prova suficiente para assegurar esse anátema.

Para os que se deram ao trabalho de examinar os argumentos da sentença do juiz Moro e da decisão do TRF da 4a Região, confrontando-os com as provas que se tornaram públicas, capitaneadas por Leo Pinheiro, não havia e não há prova suficiente para a condenação.

Como dar crédito a esse senhor, mergulhado até o pescoço em diversas acusações e querendo diminuir a sua pesada punição com o expediente da delação premiada, que se tornou prática costumeira na Lava Jato, sempre pronta a melhorar a situação penal daqueles que estão prestes a se afogar em longas penas?

Viu-se claramente que foi tudo resultado de evidente perseguição política. Repetiram-se fatos do passado.

Em 1954, Getúlio Vargas foi premido pelos militares da Aeronáutica, que tiveram a audácia de intitular-se a “República do Galeão” e expedir intimações para civis deporem sob essa improvisada jurisdição. O resultado, como se sabe, foi o trágico suicídio de Vargas. Dez anos depois, no inesquecível e doloroso ano de 1964, foi a vez de Jango ser deposto. E, agora, o premiado foi Lula.

Interessante e dramático é constatar que esses três presidentes se destacaram pela defesa da problemática social, procurando combater a miséria e melhorar a situação dos mais pobres.

Getúlio com a sua política trabalhista; Jango com as reformas de base e Lula com a constante preocupação com a temática social.

Na verdade, a preocupação dos três presidentes com as classes sociais mais humildes foi a marca registrada que os assemelhou.

Em contrapartida, a elite –-a “Casa Grande” ou o “andar de cima”, como alguns apropriadamente a denominam-– parece mesmo não gostar que presidentes da República estejam a se preocupar com a infantaria social, apesar de tudo lhes faltar.

Capítulo à parte merece o impeachment da presidente Dilma Roussef em 2016.

Eleita em 2010 e reeleita em 2014 tinha como prioridade amparar os menos favorecidos. Mais uma vez as classes dominantes, socialmente privilegiadas, não se conformaram com essa conduta e Dilma foi golpeada duramente.

As acusações dirigidas à presidente ampararam-se em falsos crimes cometidos durante o segundo mandato governamental em 2015. Importante notar que o Ministério Público Federal alegou que não havia crime praticado pela presidente. Mesmo assim, Dilma caiu.

Atrás dessa manobra parlamentar bem articulada, operava nada mais do que Eduardo Cunha, então o todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados e inimigo pessoal de Dilma.

No momento atual, alguns generais, ultrapassando os deveres para com os seus compromissos profissionais e violando a ordem constitucional vigente, pregaram abertamente a intervenção militar, como se um golpe castrense fosse a salvação nacional. E não faltou quem, com linguagem contundente, tentasse pressionar o Supremo Tribunal Federal, na véspera do julgamento do habeas corpus preventivo do Lula.

Felizmente, ainda temos juízes no Brasil e o Decano da Suprema Corte, ministro Celso de Mello deu-lhe veemente e adequada resposta, que ficará para sempre guardada, historicamente, nos anais do STF.

Estas são algumas das ondas que ajudam a tornar o oceano político agitado e revolto. E não podemos desconsiderar aqueles que gritam de alegria com a prisão do ex-presidente, relembrando as manifestações histéricas que comemoravam as fogueiras humanas da Inquisição.

Nesse quadro angustiante de acontecimentos ficamos a nos perguntar: qual o futuro do Lula? Se ele for candidato, superando todos os óbices atuais, certamente ganhará.

Mas se não conseguir ser candidato?

A resposta parece fácil: ele continuará ostentando inegável prestígio.

Resta saber se conseguirá transferir o seu contingente eleitoral para o candidato escolhido, seja Guilherme Boulos, Manuela D´Ávila, Fernando Haddad ou qualquer outro. Parece que conseguirá fazê-lo porque o seu prestígio é muito grande, mas só o tempo decifrará essa incógnita.