Muito além de Lula – 2
Em artigo no jornal Valor, sob o título “O Coelho na cartola”, Fernando Limongi, professor de Ciência Política da USP, oferece mais uma interpretação para sustentar que os votos dos ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski não tinham o objetivo principal de proteger ou salvar o ex-presidente Lula –hipótese que este Blog registrou, citando análise da jornalista Maria Cristina Fernandes, publicada no mesmo jornal.
Eis o que diz Limongi em sua coluna, nesta segunda-feira (30):
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Quando se trata de defender uma causa ou amigos, Mendes saca da toga um arsenal infinito de macetes jurídicos e distinções de conveniência. No centro do picadeiro em que se transformou o Supremo, o ministro não se cansa de produzir acrobacias e magias.
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Obcecados com os processos contra Lula, os combativos membros da Força [força-tarefa da Lava Jato] não se deram conta do verdadeiro objetivo de Mendes. O ministro não se pôs em campo para proteger ou salvar Lula. Seu objetivo é outro. Assim se fazem os truques de magia. A atenção do espectador é desviada para que o coelho saia da cartola.
O que pede a intervenção do ministro são casos como o de Ronaldo Cezar Coelho que, segundo informou O Estado de S. Paulo de sábado, “recebeu 6,5 milhões de euros por empréstimo de avião para atividades ligadas à campanha de Serra em 2010”.
Em depoimento à Polícia Federal, o empresário afirmou que o dinheiro foi depositado na Suíça, a pedido do então presidente do PSDB.
Segundo o jornal, o relator do inquérito no Supremo Tribnal Federal é ninguém menos que Gilmar Mendes. Não há notícia de que Cezar Coelho tenha foro privilegiado e, nesse caso, a Força não vê razões para protesto.
A delação da Odebrecht alcança a todos. Vai muito além da Petrobras e da gestão do PT. É isso que preocupa Gilmar Mendes e o faz recorrer a seus malabarismos jurídicos habituais. Neste caso, o coelho precisa ser reposto na cartola.
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Detalhe: o “C” do coelho, no título do artigo, é maiúsculo.