Memórias do descaso público

Por obrigação profissional ou quando intimados, jornalistas que frequentaram –até os estertores da ditadura– as dependências da Polícia Federal no Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu em São Paulo, sabem que a tragédia do desabamento foi antecedida por muitos anos de descaso do poder público, mesmo antes de o imóvel ser abandonado pelo serviço federal na década passada.

Advogados criminalistas também se sentiam incomodados com a deterioração do prédio no período das trevas.

Réus famosos e desconhecidos eram ouvidos em instalações precárias, com elevadores inseguros, móveis velhos e desconfortáveis –uma das conhecidas formas de o Estado constranger, humilhar e atemorizar o cidadão suspeito ou inocente.

A dolorosa imagem dos escombros e dos regastes neste primeiro de maio trazem de volta um quadro inesquecível: as longas filas de famílias que ficavam ao relento, de madrugada, para obter um passaporte –obrigação do Estado– tendo que suportar em silêncio cenas de arbitrariedades de agentes federais no interior do prédio.

Cenas de um país desigual, ao lado havia o acesso aos contribuintes VIPs e autoridades digamos assim, com foro especial, que rapidamente recebiam o seu passaporte.